sábado, 12 de julho de 2008

Semana cheia! País vazio institucionalmente...

Não é na Dinamarca, é aqui

11/07 - 18:26 - Alberto Dines

Agora é Eike Batista, o Midas que transforma em grandes negócios tudo o que toca. Nos últimos dias a cena esteve ocupada pela telenovela de fraudes e trambiques protagonizada por Daniel Dantas que já se arrasta há mais de uma década. Com ele a Polícia Federal prendeu o especulador Naji Nahas (que quebrou a Bolsa de Valores do Rio no fim dos anos 80) e levou junto o ex-prefeito Celso Pitta, filhote de Paulo Maluf, o mesmo que anda às voltas com a Justiça desde que experimentou os prazeres do poder.

O Estado brasileiro precisa de uma colonoscopia urgente para avaliar o calamitoso estado dos seus intestinos. Precisa de alguém apto a fazer a anamnese (histórico clínico) minimamente confiável. Acontece que o governo - administrador e defensor do Estado - é uma entidade inconfiável porque além de paciente é também agente. Enfermo e enfermidade: sente dores, sintomas, mas não tem condições de tratá-los.

A sucessão de conflitos e contenciosos que estouram a cada 12 horas originam-se na própria incapacidade do Executivo de sobrepor-se aos litigantes simplesmente porque ele também litiga nos desvãos. É parte, portanto suspeito.

A pressa da Polícia Federal em colocar o “gênio” Daniel Dantas no xilindró tem a ver com a consumação dos acordos destinados a criar a super-tele, a operadora de telefonia resultante da fusão OI-Brt (Brasil Telecom), incentivada e empurrada pelo governo. Ou um segmento dele.

Diante de um Congresso esvaziado, uma oposição convertida em federação de candidaturas, um ministro da Justiça atropelado pelos fatos e um chefe de Estado empoleirado nos palanques, a crise ganha dimensões preocupantes porque ultrapassa a questão da “espetacularização das ações policiais”.

Estamos diante de uma grave crise institucional e, como se não bastasse, com características surpreendentes, pois não se trata de poderes que colidem, mas de confrontos corporativos, intestinos que extravasam, se contagiam e contaminam todo o ambiente.

Há pelo menos duas alas na Polícia Federal, uma delas muito aguerrida, acelerando o bulldozer e aliada ao Ministério Público. Um juiz de primeira instância próximo deste segmento se rebela abertamente contra decisão do presidente da suprema corte e, além disso, autoriza o “monitoramento” do seu gabinete.

Neste dramático pandemônio, lobistas e advogados agem nos corredores palacianos cuidando nas altas esferas dos interesses de clientes nem sempre coincidentes com os interesses do governo e do Estado. Chocante e doloroso, o caso do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, campeão na luta dos direitos humanos, ex-deputado do PT e membro do seu Diretório Nacional que procura o chefe-de-gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, para livrar Daniel Dantas das pressões de um delegado “meio descontrolado” (Protógenes Queiroz, o encarregado da Operação Satiagraha que provocou o furacão jurídico-policial).

E como chegam à sociedade tais aberrações? Por vazamentos, dicas, meias informações e contra-informações sopradas para a imprensa pelas diferentes facções. O vazio de poder é físico e metafísico. Faltam referências, contestações, murros na mesa e, principalmente presenças. Autoridades evaporaram e a autoridade desapareceu.
O narrador viajou para os antípodas e como os fatos são confusos, sobraram delirantes versões. E os cheiros.


fonte: www.observatoriadaimprensa.org

sábado, 17 de maio de 2008

Uma boa reflexão de como é difícil vencer o atraso!

Assim como um Juíz absolve o mandante de um crime anunciado, o fazendeiro que articulou a morte de uma missionária - que teve repercussões na mídia internacional, e a imprensa brasileira pouco divulga, a mesma imprensa se preocupa em vazar dossiês levados atá a redação de uma "revista" sem nenhum critério de análise, é motivo de CPI e leva o povo a entender que não se pode levantar as contas de ex-políticos por ser anti-ético. É bom refletir!

CONFLITOS AGRÁRIOS
Um novo olhar sobre a questão da terra

Por Luciano Martins Costa em 13/5/2008

A recente absolvição do fazendeiro acusado de mandar matar a missionária Dorothy Stang oferece uma oportunidade para observar como a imprensa brasileira parece atônita diante da questão indígena e da questão agrária. Colocando-se de lado o fato de que a imprensa, não apenas no Brasil, mas também no exterior, não parece duvidar de que o fazendeiro Vitalmino Moura foi o mandante do assassinato, é interessante notar como chegam aos moradores das grandes cidades os fatos do interior do País.

De modo geral, a leitura de jornais e revistas revela uma visão romantizada da população indígena, que induz à produção de reportagens com abordagem paternalista ou condescendente. Até o ponto em que o índio, quando protagonista, aparece como obstáculo ao desenvolvimento ou no papel de agente de resistência à expansão da atividade econômica organizada pelo branco. Neste ponto, repete-se o viés com que a imprensa enxerga a própria floresta ou o cerrado, ou o patrimônio ambiental em geral: o crescimento econômico vem em primeiro lugar entre as prioridades.

Não se deve, com isso, concluir que a imprensa brasileira é contrária à preservação do meio ambiente, ou que seja favorável à expansão ilimitada de pastagens e plantações de soja sobre o cerrado ou as florestas tropicais. A imprensa é, a seu modo, defensora da "natureza", mas isola esse tema da questão do desenvolvimento, como se isso fosse possível ou recomendável. Esta é provavelmente a razão pela qual parece esquizofrênica uma publicação que coloca nas ruas uma edição especial sobre a Amazônia e, ao mesmo tempo, em seu noticiário de rotina, trata como criminosos os indígenas que se defendem da invasão de grileiros ou garimpeiros ou os sem-terra que bloqueiam estradas e exigem uma ação mais efetiva do governo na gestão territorial das terras agriculturáveis.

Grileiros e agronegócio

A imprensa parece ignorar que aqueles aventureiros brancos presentes em terras indígenas são, quase sempre, a tropa de choque dos chamados empreendedores rurais. Não poucos entre os grandes do agronegócio começaram ou expandiram seus latifúndios usando a mão-de-gato de grileiros e armando pistoleiros para "limpar" o caminho. Não faz muito mais do que vinte anos que o falecido deputado e fazendeiro João Branco se vangloriava, no Acre, de resolver a bala as dificuldades para a expansão de seus negócios e que uma famigerada quadrilha de policiais militares ofertava serviços de pistolagem, tendo o mais notório de seus líderes, o coronel Hildebrando Paschoal, alcançado as manchetes pela prática de, digamos, "desmobilizar" seus adversários com a ajuda de uma moto-serra

A rigor, nenhum editor admitiria que sua visão da questão agrária se aproxima mais do pensamento vivo de Hildebrando ou de João Branco do que da missionária Dorothy Stang. Tampouco se poderia acusar a imprensa de considerar aceitável o uso da violência como meio de resolver disputas por terra, mas de modo geral se pode afirmar que, ideologicamente, a imprensa penderia mais a favor de um Hidebrando sem moto-serra do que de um João Pedro Stédile sem seu alicate de cortar arame farpado.

O problema é que não há muitas formas de encarar o problema da gestão territorial, seja do ângulo da organização da produção agrícola, seja diante da questão da acomodação de indígenas e quilombolas em porções de terra adequadas ao seu modo tradicional de vida. O que transcende da leitura de jornais e revistas é que a concessão dessas terras representa um desperdício de recursos, uma vez que, vista das redações, a atividade dessas comunidades não produz nem uma fração da riqueza que brota das pastagens ou das plantações dos brancos. Talvez fosse o caso de se perguntar a certos articulistas se eles preferem ver os descendentes de quilombolas morando nas favelas das cidades.

Interesse nacional

A imprensa, de modo geral, vê a produção agrícola e a gestão territorial exclusivamente do ponto de vista da relação custo-benefício econômica, num sentido de economia muito questionável, uma vez que a organização da economia deve também objetivar a resolução ou prevenção de problemas sociais, pela oferta de oportunidades mais amplas. Neste sentido, a pouca e mais custosa produção que atende e garante qualidade de vida a uma comunidade quilombola pode ser mais importante para o interesse do país do que aquela que oferece números estupendos, mas beneficia um grupo minúsculo de acionistas.

Este é o debate que não está presente na imprensa brasileira, mesmo sabendo-se que o Brasil tem terras agriculturáveis em extensão suficiente para a expansão do agronegócio, para assegurar o desenvolvimento da agricultura familiar onde existe a cultura apropriada, e para permitir a continuidade dos modos de vida tradicionais que se alimentam da terra. Nenhum governo produziu até hoje no Brasil uma estratégia que contemplasse essas diferentes formas de exploração da terra, e os conflitos, como o que resultou, em 2005, no assassinato da missionária Dorothy Stang, seriam perfeitamente evitáveis se tivéssemos uma estratégia sustentável para a questão agrária e o patrimônio ambiental.

Conceito de desenvolvimento obsoleto

O governo nunca elaborou uma estratégia abrangente, e a imprensa passa ao largo dessa idéia porque vive amarrada a um conceito de desenvolvimento obsoleto que, até aqui, só aumentou as diferenças sociais e, se vem apresentando algum resultado nos últimos anos, é justamente pela combinação do planejamento centralizado com políticas emergenciais de transferência de renda. Por não ter em sua rotina a prática de abordar esse conjunto de temas de maneira sistêmica é que a imprensa brasileira surpreendeu no último final de semana, especialmente a Folha de S.Paulo e O Globo. A Folha porque destacou, como manchete no domingo, o risco da volta do terror representado pelos pistoleiros nas regiões de conflito constante, como a área, no Pará, onde foi assassinada a missionária. O Globo, pelo levantamento das terras agriculturáveis ociosas, informação que ajuda a pensar numa reforma agrária capaz de aliviar a disputa por terras nas fronteiras agrícolas que permanentemente ameaçam as florestas e cerrados. Também o Estadão contribui para o debate sobre o tema, embora tenha limitado sua abordagem à repercussão da morte de Dorothy Stang.

O mais comum é encontrar na imprensa artigos, editoriais ou mesmo reportagens questionando a concessão de terras a comunidades indígenas ou quilombolas, com o argumento de que os beneficiários dessas concessões ganham o direito simplesmente declarando que são indígenas ou descendentes dos habitantes das antigas comunidades de africanos fugidos da escravidão ou da miséria pós-"libertação". Omite-se ou ignora-se o fato de que, tanto os guaranis do Brasil como os sapmis da Suécia ou os sasqatchewan do Canadá são assim considerados quando declaram sua ascendência e têm essa declaração confirmada pela comunidade a que afirmam pertencer.

É um critério internacional de identificação de populações nativas, definido pela ONU e aceito pela maioria dos países, inclusive o Brasil, há muito tempo. Não se trata, como faz crer a imprensa, de uma invenção do atual governo ou de militantes de organizações de direitos humanos. É uma forma de preservar direitos centenários ou milenares, que um sistema econômico predador vinha eliminando.

No momento em que o Brasil é convocado a melhorar sua produção agrícola por conta da mudança na matriz de combustíveis e pela necessidade de oferecer mais alimento ao mercado global, a imprensa prestaria um bom serviço se ajudasse a pressionar o governo por políticas mais justas e efetivas no ordenamento do uso da terra. Mas, para isso, seria preciso que a imprensa perdesse o medo de encarar as questões agrária, ambiental e social como se fossem pautas isoladas.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Faz tempo que não atualizo os artigos. Mas agora vai ai um especial. Pelo benefício da dúvida, prefiro ficar com o povo boliviano - a maioria.!

MÍDIA & POLÍTICA
Na Bolívia, imprensa só dá espaço a separatistas

Por Mário Augusto Jakobskind em 6/5/2008

Publicado originalmente no TemNotícia , 30/4/2008

A Bolívia está passando por um momento difícil. A direita, com o apoio da embaixada dos Estados Unidos, está mobilizada e joga com a divisão do país. Neste próximo domingo, 4 de maio, está promovendo um plebiscito ilegal em Santa Cruz de la Sierra para decidir pela autonomia da chamada Meia Lua, região do país onde empresários e setores que sempre estiveram vinculados ao retrocesso e à exploração do povo não aceitam o governo de Evo Morales. Estes grupos, que controlam os meios de comunicação em sua quase totalidade, não escondem o racismo que cultivam com demonstrações de ódio aos indígenas, a maioria da população boliviana (mais de 60%).

Quanto à mídia, o panorama é dos mais negativos. Os meios de comunicação conservadores, os mesmos que defendem a liberdade de imprensa na Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), entraram de sola na campanha em favor do separatismo. Predomina o velho e surrado esquema do pensamento único, ou seja, todo o espaço a quem está do lado da direita e nada para quem combate a ilegalidade do separatismo.

Em Santa Cruz, segundo relato do jornalista boliviano Grover Cardozo, rádios, canais de televisão e jornais estabeleceram um canal direto com o chamado Comitê Cívico Pró-Santa Cruz e a prefeitura, enquanto os espaços alternativos deixaram de lado o medo e tomam as ruas e as praças para protestar contra o samba de uma nota só dos veículos tradicionais.

Fato consumado

É esta a democracia que os defensores do separatismo apregoam. Ou seja, uma democracia que só dá vez e voz aos que pensam em se separar da Bolívia. Um dos maiores aliados é a embaixada estadunidense, cujo titular é nada mais nada menos que Philip Goldberg. Este representante do governo de George W. Bush aparentemente pode nada significar. Mas se for mais analisado, verifica-se que de ingênuo não tem nada, muito pelo contrário. Este senhor desempenhou a mesma função de embaixador estadunidense nos anos 90, quando da divisão da Iugoslávia. Teve atuação intensa, estimulando a ação dos grupos separatistas. A Iugoslávia acabou se pulverizando em vários países. A nomeação de Goldberg para a Bolívia no ano passado não foi por acaso. Veio cumprir uma missão.

O plebiscito convocado para este domingo não foi reconhecido pela Justiça, tampouco pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Não terá, portanto, qualquer valor legal. Soma-se a isso o tipo de cobertura midiática que a mídia tradicional está realizando e pode-se ter uma idéia do verdadeiro objetivo da convocação. Isto é, os separatistas, com apoios internacionais óbvios, querem criar um fato consumado que poderá levar a Bolívia a uma situação de extrema gravidade. Esta gente não prega prego sem estopa.

Passada a limpo

Tudo que está sendo feito é calculado com antecedência, milímetro por milímetro. Pior, os meios de comunicação conservadores empenhados na campanha ainda se autodenominam democratas. Estes "democratas" já apoiaram os vários ditadores que assolaram a Bolívia nos anos da Guerra Fria e, quando do período democrático, ficavam do lado do então presidente Gonzalo Sánchez de Losada, apologista do modelo neoliberal, repudiado pela ampla maioria do povo boliviano, e que hoje vive nos Estados Unidos. A extradição deste senhor, que fala espanhol com sotaque estadunidense já foi pedida pela Justiça boliviana, mas dificilmente os Estados Unidos a concederão. Sánchez de Losada, por sinal, ainda deve ser julgado pelas acusações que pesam sobre ele, inclusive pela morte de bolivianos em protestos contra o seu governo e outros desrespeitos aos direitos humanos.

Os separatistas, golpistas por natureza, querem voltar ao poder, exatamente para colocar em prática uma política de favorecimento a uma minoria de privilegiados, os mesmos que hoje não aceitam Evo Morales como presidente da República. Não se conformam com o fato de a Bolívia estar sendo passada a limpo depois de tantos anos de exploração do povo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Os novos terroristas da mídia

por Marcelo Salles

Poucas vezes uma reportagem a respeito do MST foi tão distorcida quanto a do Jornal Nacional da última quarta-feira. Nos dois minutos e vinte e quatro segundos da matéria busca-se a criminalização dos camponeses; para tanto, imagens e palavras são cuidadosamente articuladas para transmitir ao telespectador a idéia de que os militantes do movimento são os responsáveis por todo o medo que ronda os paraenses.
Logo na abertura da matéria, o fundo escurecido por trás do apresentador exibe a sombra de três camponeses portando ferramentas de trabalho em posições ameaçadoras, como a destruir a cerca cuidadosamente iluminada pelo departamento de arte da emissora. Quando os militantes aparecem nas imagens, estão montando o acampamento e utilizando folhas de palmeiras - naturalmente já arrancadas das árvores. Quando a matéria corta para ouvir a opinião de um empresário local, ele tem ao fundo exatamente uma folha de palmeira, só que firme no solo - vistosa e viva. O representante da Vale do Rio Doce é o que tem mais tempo para se manifestar, até gagueja e balbucia: "esses movimentos... estão [nos] impedindo de trabalhar". Em nenhum momento os representantes do MST são ouvidos, o que contraria, inclusive, as próprias regras do manual de jornalismo da Globo. Mas quando os interesses comerciais de empresas amigas estão em jogo essas regras são postas de lado.
Outro dado marcante desta reportagem é a descontextualização dos fatos. O telespectador é apenas informado que o MST “ameaça invadir a Estrada de Ferro Carajás, da Companhia Vale”, mas não se explica que esta ação direta tem uma origem: a privatização fraudulenta da empresa que era estatal. A companhia foi leiloada, em 1997, por R$ 3,3 bilhões. Valor semelhante ao lucro líquido da empresa obtido no segundo trimestre de 2005 (R$ 3,5 bi), numa clara demonstração do prejuízo causado ao patrimônio nacional. Desde então, cidadãos e cidadãs vêm promovendo manifestações políticas e ações judiciais que têm por objetivo chamar a atenção da sociedade e sensibilizar as autoridades competentes para anular o processo licitatório. Se há uma diferença brutal entre discordar de uma determinada opinião e omiti-la, este caso torna-se ainda mais grave porque não se trata de uma opinião, e sim de um fato político: a privatização da Vale é questionada na Justiça – e com grandes chances de ser revertida. Ao sonegar esta informação, a Globo comete um crime.
Com a mesmíssima parcialidade age o jornal carioca O Globo. A reportagem publicada no mesmo dia sobre o MST não deixa dúvidas quanto a posição contrária do jornal. A chamada na capa diz: “MST desafia a Justiça e volta a ameaçar a Vale”; o pequeno texto, logo abaixo, aprofunda a toada: “O MST ameaça descumprir ordem judicial e invadir novamente a ferrovia de Carajás, da Vale, no Pará. Moradores da região estão atemorizados, com a cidade cercada por mais de mil militantes do MST, a quem acusam de terrorismo”. A reportagem principal, à página 9, é acompanhada de outra de igual tamanho. Ambas ouvem apenas a versão da mineradora privatizada pelo governo tucano de FHC. Imediatamente abaixo, como a reforçar a visão policialesca, uma fotografia de um homem morto sobre o título: “Em Porto Alegre, um flagrante de homicídio”. Nenhum dos dois veículos (O Globo e JN) registrou o apoio recebido pelo MST por artistas, intelectuais e lideranças partidárias.
Esta falsa preocupação do Globo com a defesa do povo brasileiro não é de agora. O mesmo jornal que sugere que os militantes do MST são terroristas há 44 anos agiu da mesma foram quando um golpe de Estado derrubou o presidente constitucional João Goulart. Em texto editorial do dia 2 de abril de 1964, o “Globo” assinalou:
- Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas (...) para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas (...), o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições (...)
Assim como para o “Globo” os inimigos do passado eram aqueles que se insurgiam contra a ditadura que seqüestrou, torturou e matou milhares de brasileiros, hoje os terroristas são aqueles que lutam contra as multinacionais que roubam o patrimônio público, danificam o meio-ambiente e produzem graves problemas sociais. É por isso que ao interromper o fluxo de exportação de uma dessas empresas os militantes do MST acertam em cheio no sistema nervoso do capitalismo. Dotados apenas de enxadas e coragem, os sem-terra enfrentam jagunços armados, policiais e poderosos grupos de comunicação - esse coquetel que tem como objetivo massacrar o povo organizado. Os militantes do MST ensinam ao povo brasileiro: não é uma luta justa, mas é uma luta que pode ser vencida.
Por outro lado, o jornalismo dos Marinhos mais uma vez revelou seu caráter covarde e submisso. Aliou-se aos poderosos e rasgou o juramento profissional da categoria, sobretudo no seguinte trecho: "A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade".
Mas não há de ser nada. A História vai se ocupar de reservar a cada qual seu devido lugar.

Marcelo Salles é correspondente da Caros Amigos no Rio de Janeiro e editor do jornal Fazendo Media (www.fazendomedia.com).

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Serra e a Educação em São Paulo

A 1ª etapa da Proposta Curricular para São Paulo finalizou-se na semana passada quando nos dias 03 e 04 de abril foi feito um planejamento avaliando o trabalho do 1º mês. Alguns pontos positivos podem ser destacados como por exemplo a atualização dos conteúdos em diversas disciplinas. A dedicação dos alunos foi quase 100%, porém acharam estranho a forma como a proposta foi aplicada. Os professores também se dedicaram, visto que revelou-se que o principal problema da educação em São Paulo não são os professores.
Todavia algumas coisas podem ser repensadas. Alguma coisa tinha que ser feita. Seria impossível entender a queda na educação em São Paulo, a baixa qualidade sem tomar-se providências, justamente por parte de um governo que pretende a presidência da república. Doravante é bom explicar que o problema em São Paulo não é novo, nem mesmo é esse governo que o causou e nem será ele quem vai solucionar. O que se nota nesta política é o mesmo que se notou em outros tempos. Políticas de governo, e não políticas públicas. Pretende-se alcançar metas, números. Embora as avaliações externas sejam numéricas o problemas é bem mais embaixo. Os números não revelarão tudo que se passa ou se passou, mesmo que acrescentem melhorias.
Há mais de 14 anos esse governo tem mal tratado a educação no Estado de São Paulo, aplicando políticas governistas, eleitoreiras e assitindo o diagnóstico de queda sem dar atenção devida.
A política de terceirização (não somente na educação) já se revelou um tanto que perigosa para o setor público. A educação não pode ser tratada como um serviço que se empreita, como contruções, coleta de lixo, tratamento de água, eletricidades, etc. A educação é um bem universal!
Embora existam boas intenções na proposta, não é com base numa políticia americana onde os jovens planejam espetáculos de violência, show bélicos e assassinatos, que a nossa proposta deva ser pautada. Falou-se muito dos modelos internacionais. O ideal é criar-se um modelo brasileiro, ímpar, onde os problemas brasileiros devam ser diagnosticados e tratados.
Outro aspecto é que o governo de São Paulo escora-se na mídia (através de acordos neoliberais) para apresentar um diagnóstico onde os professores, pilares do sistema são desqualificados, como se fossem únicos responsáveis pela falta de qualidade. Um dos principais fatores é sim, a ausência de propostas criativas e formuladas com base nos modelos nacionais de educação. A ausência de investimento em qualidade está marcada principalmente pela presença do modelo terceirizado na formulação dos projetos. As equipes que confeccionaram o material, são terceirizadas, não convivem com o quadro de crise marcado há mais de 14 anos. Os curso que capacitam professores também são de cujo terceirizado, visto o descaso na articulação entre orientando, orientador, cronograma e planejamento. O material, após ser revisto, tem marca profundamente ideológica, onde se desqualifica políticas do governo federal, qualificando-se uma nefasta perda de recursos em São Paulo na última década (ver exemplo no jornal de geografia da 7ª e 8ª séries em relação IDH e GINI).
Para tanto, a política de governo (e não pública) acrescenta algumas incosntitucionalidades, como por exemplo a retirada das disciplinas Sociologia e Psicologia do currículo do Ensino Médio, e Geografia na 3ª série do EM sendo adequada a parte diversificada, retirada da base comum.
a data base do salário dos professores que exige correção de acordo com inflação do período nem sequer é falada e a estratégia de impor verticalmente via Diretoria de Ensino e Diração de Escolar a "Proposta" deixa de ser proposta, passando a ser imposição Curricular.
Mesmo cumprindo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, e financiando material escolar produzido por equipes terceirizadas e organizando uma estrutural de material físico junto as empresas concorrentes para fornecer bens e serviços o governo de São Paulo demonstra mais uma vez uma preocupação descabida, prioriza-se o supérfluo e minimiza o essencial.
Com uma equipe acostumada com o poder é estranho perceber que nem mesmo o grupo político ainda não viu, e enxergou, digo, enxergou, uma grande parcela de culpa originária nos próprios meandros de suas políticas neoliberais que apresentam fracassos em toda América Latina, na educação francesa, na itália, e principalmente nos EUA, gerando como principal fruto a violência.
De fato, professores precisam se preparar no cotidiano, sempre se adapatando, renovando, construindo, porém a classe dominante, o poder estruturado deve observar o quanto errou para refazer os erros e torná-los acertos.
Ainda necessita-se urgentemente de uma política pública para a educação de São Paulo e menos política de governo. Os recurso do FUNDEB estão aí (apesar do atraso devido obstruções equivocadas nas votações no congresso); a arrecadação de impostos cresce, porém a distribuição, o retorno talvez seja mal distribuído.
Embora tudo pareça mais um evento em ano de eleição as esperanças são grandes. Como diria Carlos Drumond de Andrade, "vamos de maõs dadas"! A sociedade entende com clareza a cada dia, nem mesmo a mídia ideológica engana mais, resta saber se os gestores da Proposta pensam como o poeta: "vamos de mãos dadas"!
Prof. PC

sábado, 29 de março de 2008

A invenção da crise - Marilena Chauí

Este texto vem elucidar a clareza dos fatos na política nacional depois da eleição de Lula para presidente. Marilena Chauí, com propriedade, esboça algumas razões das crises políticas no Brasil, que nada mais são do que lutas de classes. Vale a Pena ler e copiar! Prof. PC

Era o fim da tarde. Estava num hotel-fazenda com meus netos e resolvemos ver jogos do PAN-2007. Liguei a televisão e "caí" num canal que exibia um incêndio de imensas proporções enquanto a voz de um locutor dizia: "o governo matou 200 pessoas!". Fiquei estarrecida e minha primeira reação foi típica de sul-americana dos anos 1960: "Meu Deus! É como o La Moneda e Allende! Lula deve estar cercado no Palácio do Planalto, há um golpe de Estado e já houve 200 mortes! Que vamos fazer?". Mas enquanto meu pensamento tomava essa direção, a imagem na tela mudou. Apareceu um locutor que bradava: "Mais um crime do apagão aéreo! O avião da TAM não tinha condições para pousar em Congonhas porque a pista não está pronta e porque não há espaço para manobra! Mais um crime do governo!". Só então compreendi que se tratava de um acidente aéreo e que o locutor responsabilizava o governo pelo acontecimento. Fiquei ainda mais perplexa: como o locutor sabia qual a causa do acidente, se esta só é conhecida depois da abertura da caixa preta do avião? Enquanto me fazia esta pergunta e angustiada desejava saber o que havia ocorrido, pensando no desespero dos passageiros e de suas famílias, o locutor, por algum motivo, mudou a locução: surgiram expressões como "parece que", "pode ser que", "quando se souber o que aconteceu". E eu me disse: mas se é assim, como ele pôde dizer, há alguns segundos, que o governo cometeu o crime de assassinar 200 pessoas?
1) Que papel desempenhou a mídia brasileira – especialmente a televisão – na "crise aérea" ?
O que mais impressiona é a velocidade com que a mídia determinou as causas do acidente, apontou responsáveis e definiu soluções urgentes e drásticas!
No plano político, a invenção da crise aérea simplesmente é mais um episódio do fato da mídia e certos setores oposicionistas não admitirem a legitimidade da reeleição de Lula, vista como ofensa pessoal à competência técnica e política da auto-denominada elite brasileira. É bom a gente não esquecer de uma afirmação paradigmática da mídia e desses setores oposicionistas no dia seguinte às eleições: "o povo votou contra a opinião pública". Eu acho essa afirmação o mais perfeito auto-retrato da mídia brasileira!

Do ponto de vista da operação midiática propriamente dita, é interessante observar que a mídia:

a) não dá às greves dos funcionários do INSS a mesma relevância que recebem as ações dos controladores aéreos, embora os efeitos sobre as vidas humanas sejam muito mais graves no primeiro caso do que no segundo. Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não é? Já a classe média e a elite... bem, é diferente, não? A dedicação quase religiosa da mídia com os atrasos de aviões chega a ser comovente...

b) noticiou o acidente da TAM dando explicações como se fossem favas contadas sobre as causas do acontecimento antes que qualquer informação segura pudesse ser transmitida à população.

c) estabeleceu ligações entre o acidente da GOL e o da TAM e de ambos com a posição dos controladores aéreos, da ANAC e da IFRAERO, levando a população a identificar fatos diferentes e sem ligação entre si, criando o sentimento de pânico, insegurança, cólera e indignação contra o governo Lula. Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia e a repetição descontextualizada de frases de Guido Mântega, Marta Suplicy e Lula;

d) definiu uma cronologia para a crise aérea dando-lhe um começo no acidente da GOL, quando se sabe que há mais de 15 anos o setor aéreo vem tendo problemas variados; em suma, produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula;

e) vem deixando em silêncio a péssima atuação da TAM, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes, desde 1996, três deles ocorridos em Congonhas e um deles em Paris – e não dá para dizer que as condições áreas da França são inadequadas! A supervisão dos aparelhos é feita em menos de 15 minutos; defeitos são considerados sem gravidade e a decolagem autorizada, resultando em retornos quase imediatos ao ponto de partida; os pilotos voam mais tempo do que o recomendado; a rotatividade da mão de obra é intensa; a carga excede o peso permitido (consta que o AIRBUS acidentado estava com excesso de combustível por haver enchido os tanques acima do recomendado porque o combustível é mais barato em Porto Alegre!);

2) Como a sra. avalia a reação do Governo Lula à atuação da mídia nesse episódio?

Fraca e decepcionante, como no caso do mensalão. Demorou para se manifestar. Quando o fez, se colocou na defensiva. O que teria sido politicamente eficaz e adequado? Já na primeira hora, entrar em rede nacional de rádio e televisão e expor à população o ocorrido, as providências tomadas e a necessidade de aguardar informações seguras.

3) Em "Leituras da Crise", a sra. discute a tentativa do impeachment do Presidente na chamada "crise do mensalão". Há sra. vê sinais de uma nova tentativa de impeachment ?

Sim. Como eu disse acima, a mídia e setores da oposição política ainda estão inconformados com a reeleição de Lula e farão durante o segundo mandato o que fizeram durante o primeiro, isto é, a tentativa contínua de um golpe de Estado. Tentaram desestabilizar o governo usando como arma as ações da Polícia Federal e do Ministério Público e, depois, com o caso Renan (aliás, o governador Requião foi o único que teve a presença de espírito e a coragem política para indagar porque não houve uma CPI contra o presidente FHC, cuja história privada, durante a presidência, se assemelhou muito à de Renan Calheiros). Como nenhuma das duas tentativas funcionou, esperou-se que a "crise aérea" fizesse o serviço. Como isso não vai acontecer, vamos ver qual vai ser a próxima tentativa, pois isso vai ser assim durante quatro anos.

Os meios de informação e comunicação julgam ter tomado o lugar dos deuses e da natureza e por isso são onipotentes – ou melhor, acreditam-se onipotentes. Penso que a mídia absorve esse aspecto metafísico das novas tecnologias, o transforma em ideologia e se coloca a si mesma como poder criador de realidade: o mundo é o que está na tela da televisão, do computador ou do celular. A "crise aérea" a partir da encenação espetacularizada da tragédia do acidente do avião da TAM é um caso exemplar de criação de "realidade". Mas essa onipotência da mídia tem sido contestada socialmente, politicamente e artisticamente: o que se passa hoje no Iraque, a revolta dos jovens franceses de origem africana e oriental, o fracasso do golpe contra Chavez, na Venezuela, a "crise do mensalão" e a "crise aérea", no Brasil, um livro como "O apanhador de pipas" ou um filme como "Filhos da Esperança" são bons exemplos da contestação dessa onipotência midiática fundada na tecnologia do virtual.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Depois da 1ª Etapa...

Quase no final da 1ª etapa da Nova Proposta Curricular para o Estado de São Paulo pode-se observar algumas conclusões. É importante observar como as características das políticas neoliberais são sempre as mesmas. As elites acham, que pelo próprio destino, ou decorrer da história têm a incumbência de corrigir distorções (que elas mesmas criaram). Isso é transparênte no discurso da secretária da Educação. Claro que tem muito de bom no planejamento, no entanto, o que se pergunta é: porque deixaram chegar a esse nível pra depois interferir com correções quase que impostas?
Os neoliberias da social-democracia podriam olhar pro passado e fazer "mea culpa". Assim poderia corrigir melhor os erros. O primeiro passo é saber que errou. Pra que existe a avaliação diagnóstica? Esse mesma que deveria ser feita no contexto geral da educação paulista! Bom, pelo menos nas escolas serão feitas, mas diagnosticarão problemas estruturais, talvés, mais que os individuais de cada unidade. Por exemplo: excesso de alunos em sala de aula, horário extenso dos professores, má formação decorrente dos cursos mal preparados pela secretaria, baixos salários, dois empregos, etc.
Quanto ao jornal, que deve ter sido planejado com serviço terceirizado (como é do feitio dos neoliberais), uma grande quantidade de erros graxos foram observados nas edições. O formato P & B, com falhas nos gráficos, mapas, equações, títulos das aulas, textos, etc, remete a uma única observação: planejamento não pode ser feito de um dia para o outro por quem não está a par do plano.
Seria bom se imprensa e sociedade acompanhassem as mudanças. A imprensa sem atacar os docentes, poderia observar o passado das políticas públicas em São Paulo. Talvés os erros seriam expostos, e conhecendo-os planejaríamos melhor.
Alguém sempre paga pela culpa. A elite se isenta e a corda sempre arrebenta do lado mais fraco!
Observem...
Prof. PC

sábado, 8 de março de 2008

A mídia como arma de guerra

Esse artigo recebi no correio Caros Amigos. Vale a pena entender um pouco mais sobre os problemas geopolíticos na América do Sul. Prefiro ficar com o benefício da dúvida. Será que a mídia sulamericana e brasileira informam a veracidade dos fatos?
Leia:

por Izaías Almada

Se alguma dúvida existia, para muitos de nós, do papel da mídia no jogo internacional do poder, na estratégia adotada pelo capitalismo neoliberal em manter suas conquistas a qualquer preço e subjugar aqueles que não lêem na sua cartilha, essa dúvida deixa de existir quando se analisa friamente os últimos acontecimentos desta semana na fronteira entre o Equador e a Colômbia.

Um país conturbado há sessenta anos por uma luta político-militar interna, onde mais de 20 mil insurgentes em armas, FARC e ELN, disputam o poder com os sucessivos governos eleitos pela oligarquia. A Colômbia viu, em poucas horas, cair por terra a máscara de país democrático e legalista. E como sua política é determinada fora de suas fronteiras ou, provavelmente, em algumas embaixadas de Bogotá, deixou a nu a estratégia adotada por todos aqueles que não querem a paz interna no país. Ou, pior ainda, que precisam conflagrar a região, ampliar o conflito, com propósitos diversionistas, desviando a atenção para encobrir aquilo que interessa ao Departamento de Estado norte-americano.

Senão vejamos trecho de um relatório feito ao presidente Bush em 30 de julho de 2001 pelo National Energy Police Report e publicado pelo jornal The Nation: “os EUA necessitam garantir para os próximos anos o fornecimento seguro, estável e barato do petróleo”. O relatório avalia que três regiões no mundo têm que ser consideradas nessa perspectiva: o Golfo Pérsico, a Ásia Central e o Arco Amazônico andino, leia-se Venezuela, Colômbia e Equador.

Há, contudo, um significativo parágrafo na recomendação a Bush: “Caso não se consiga o petróleo por meios diplomáticos, devemos introduzir na matéria o nosso aparato militar”.

Golfo Pérsico, Irã e Iraque; Ásia Central, Afeganistão. Aqui, como se sabe, falharam os “meios diplomáticos”. O Arco Amazônico andino, contudo, está localizado no “quintal”, o que não deveria causar maiores embaraços, mas surgiram aqui dois empecilhos: o primeiro, Hugo Chávez, e mais recentemente Rafael Correa. O tradicional golpe de estado foi tentado contra Chávez em 2002, mas também não deu certo.

Idéias de soberania, independência, mercados comuns e construção de alternativas energéticas vão ganhando força entre países como Argentina, Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Cuba. Cria-se a Telesur, a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas) em oposição à falecida ALCA, o Banco do Sul, a Petrocaribe, onde países pobres caribenhos podem comprar petróleo da Venezuela a preço mais barato. Um pouco de solidariedade invade os números frios do comércio feito de trocas que só beneficia um dos lados, o mais rico.

Preocupado com os conflitos militares no Iraque e no Afeganistão, com as ameaças ao Irã, com a manutenção de Israel como Estado polícia no Oriente Médio, os Estados Unidos da América perceberam que, a rigor, contam apenas com um governo totalmente submisso na América do Sul: a Colômbia. E talvez já não contem, aqui no seu antigo quintal, só com os “meios diplomáticos” para conseguir o seu petróleo seguro e barato.

Como explicar para o mundo que a invasão do território do Equador pelas Forças Armadas da Colômbia, a que se pretendeu dar um caráter de surpresa, era uma ação preventiva de defesa do território colombiano? E apresentar rapidamente como prova alguns documentos “recuperados” do laptop de um líder guerrilheiro, onde se inferia que 300 milhões de dólares foram dados por Hugo Chávez às FARC, que os guerrilheiros iriam comprar 50 quilos de urânio, que Rafael Correa e Chávez tinham acordos secretos com as FARC, um vídeo onde um soldado, em plano muito fechado, conta dólares supostamente encontrados no acampamento guerrilheiro. Afinal, tudo isso justificaria a ação em território equatoriano. E era preciso que o mundo repercutisse toda a montagem da farsa rapidamente. Rádio, televisão, jornais, internet deveriam espalhar o mais rapidamente possível para as principais capitais européias e para os países da América Latina, em particular, que a Colômbia agiu contra terroristas que até urânio já queriam comprar... (Alguém aí se lembra das armas de destruição em massa de Sadam Hussein?). A mídia foi acionada como arma de guerra, como tem sido usual nos últimos tempos. E com tal violência e precisão que confunde a cabeça de muitos de nós... e chegamos a duvidar das nossas próprias convicções.

Mas em dúvida, sempre podemos nos perguntar:

De onde partiram os aviões e helicópteros que participaram da invasão do território equatoriano e que, pela posição dos disparos, vieram do próprio território do Equador? Seriam da base norte-americana de Manta, cujo contrato não será renovado por Rafael Correa no final de 2008?

Quem dispõe de sofisticada tecnologia de satélites para identificar eventuais telefonemas dados pelo líder guerrilheiro Raul Reyes?

O que foi fazer em Bogotá, dois dias antes do bombardeio ao acampamento guerrilheiro, o contra-almirante Joseph Nimmich, comandante da Força Tarefa do Sul dos EUA?

Onde estaria localizado o laboratório das FARC para enriquecimento de urânio nas selvas colombianas?

Os 300 milhões de dólares que Chávez entregou às FARC teriam sido em cheque ou escondidos em caixas de uísque?

Por quê a imprensa não deu o devido destaque à declaração de um dos últimos reféns soltos pelas FARC, em fevereiro, de que Ingrid Bettencourt, uma vez libertada, se candidataria à presidência da Colômbia?

Teriam Uribe e o Departamento de Estado norte-americano interesse na libertação de Ingrid Bettencourt?

É preciso ter paciência diante de tanta mentira e farsa. Recomenda-se a leitura do livro O Senhor das Sombras, de Joseph Contreras, sobre Álvaro Uribe.

Izaias Almada é autor, entre outros, do livro "Venezuela Povo e Forças Armadas", Editora Caros Amigos.

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quinta-feira, 6 de março de 2008

Tailândia, Pará, Brasil, entre muitas aspas, ou “A Amazônia não é um Santuário”

por Waldenir Bernini Lchtenthaler, do Pará

As notícias informam pouco. Dizem as manchetes que Tailândia “virou campo de guerra”. Virou não, sempre foi!
Tailândia é um município do Estado do Pará, localizado à 260 Km de Belém. Tem 44 820 habitantes (2003) e 4476 km2. Originou-se a partir da construção da Rodovia PA-150, na segunda metade da década de 1970. Violentos conflitos agrários acompanharam a ocupação desordenada da região, demandando a intervenção do regime militar, através do Instituto de Terras do Pará, o ITERPA, que inciou uma operação de “pacificação” em 1978. Dentre os técnicos daquele Instituto estava o oficial da Polícia Militar, Tenente Pinheiro, líder do processo de “pacificação” da localidade, elevada à categoria de município pela Lei Estadual nº 5. 452, de 10 de maio de 1988. Instalado oficialmente em 1 de janeiro de 1989, o nome do novo município foi sugerido pelo tenente Pinheiro ainda durante sua campanha militar, nos anos 70. O militar comparou a luta pela terra com a situação de guerra da Tailândia, longínquo país asiático, conflagrada ao longo do ano de 1977. A aprovação foi unânime.
Conheci Tailândia. É um lugar espetacularmente deprimente. Embora fique em meio à Amazônia, ou melhor, justamente por isso, o ar de Tailândia é irrespirável. Incontáveis carvoarias queimam a “biomassa” amazônica produzindo com mão-de-obra precarizada - eufemismo para escrava - o carvão vegetal ilegal que fornecem para a cadeia produtiva do minério de ferro, piloteada pela grandiosa Vale, aliás, a nossa antiga CVRD. Mais precisamente, este carvão vai para as “guseiras” de Marabá/PA e Açailândia/MA. As guseiras não têm licença ambiental. Nem a Vale, em Carajás, nem a Usina de Tucuruí têm. Elas não precisam. Na época em que se instalaram a lei não exigia. Pelo mesmo princípio uma fazenda que utiliza trabalho escravo desde 1880 pode continuar usando, porque na época em que a atividade se iniciou a lei permitia. Mas é assim...
Paralelo, mas não justaposto, já que perfeitamente integrado ao “setor” carvoeiro está o “setor” madeireiro – “a base da economia” de Tailândia.
Mas, em que se sustenta, por sua vez, a atividade em que se baseia a economia local? Em dois pilares: 1) Na “extração ilegal” - eufemismo para roubo – de madeira de terras públicas ou das reservas legais de áreas privadas. 2) No aliciamento dos miseráveis e desvalidos sem-terra; sem-futuro; sem-esperança; sem-orientação; sem-cidadania. Estes são assediados pelos madeireiros que lhes oferecem algum dinheiro pelas madeiras existentes, quer nos assentamentos em que os joga o INCRA, quer em terras que são instados a invadir, em troca da promessa de que herdarão a área depois de “aberta”. Muitas vezes esses posseiros ou assentados acabam assassinados pelos “parceiros”, uma vez tendo cumprido sua “missão” dentro desso processo “civilizatório” liderado pelos “empresários” do “setor” madeireiro. A “sorte” dos trabalhadores envolvidos nas etapas seguintes à extração, ou seja, o corte e processamento da madeira ou sua queima, não é muito melhor. Perderão sua fonte “honesta” e “digna” de subsistência, mais cedo ou mais tarde, já que a atividade madeireira é predatória de si própria, destruindo rapidamente a fonte de recursos de que depende: a floresta.
Bom, agora você deve estar se perguntando: mas e o Ibama? E a Polícia Federal? E o Ministério Público? Esqueça: aqui ninguém é preso por roubar madeira, ninguém é preso por vender madeira roubada; ou por desmatar.
Quem paga as multas que o Ibama aplica? Ninguém. O que acontece com a madeira apreendida? Fica no pátio do madeireiro - “fiel depositário” - até que ele consiga esquentá-la e vendê-la. Neste exato momento em que você lê estas linhas milhares de metros cúbicos de madeira roubada de terras públicas continuam descendo os afluentes do Tapajós, do Amazonas e de outros rios em balsas lotadas. A PM escolta as balsas porque às vezes acontece de os moradores de Reservas Extrativistas, tentarem, coitados, deter as balsas e apreender a madeira. Mas o custo do transporte é muito alto e os órgãos públicos, as “autoridades” não têm recursos materiais e humanos para agir, caso desejem ou venham a desejar agir. A Polícia Federal de Marabá não tem sequer um helicóptero, idem para Ibama e o mesmo para os outros municípios. Faltam efetivos para que essas tentativas de impor a lei possam ser efetivas.
Já sei, você deve estar se perguntando: o que faz o “empresário” quando a madeira acaba na região? “Vamos subindo!”, respondeu-me um deles. A noção de que a Amazônia é uma fronteira leva a esse raciocínio: para continuar a expansão econômica, basta avançar a fronteira! É por isso que temos um “Programa de Aceleração do Crescimento” e não de aceleração do “ desenvolvimento”. Para desenvolver não precisa expandir a fronteira, mas para crescer sim. Tailândia é uma imagem do presente, mas revela muito do passado e outro tanto do futuro do Pará e da Amazônia e, quem sabe, do Brasil?
As manifestações de Tailândia são respostas espetaculosas contra uma ação espetaculosa dos órgãos do Estado, para que fosse restabelecida a autoridade que realmente impera no interior Pará – a lei dos fora-da-lei. Não nos iludamos, o poder político do agrobanditismo é mais forte do que o dos amigos da floresta. Logo virão senadores da República, deputados, ministros e secretários e outros “representantes do povo” para defender os interesses desses “empresários” e os milhares de “empregos” ameaçados. Tenho medo que o presidente da República em pessoa, cercado pelos seus novos amigos, volte a discursar: “a Amazônia não é um Santuário” Na boca dele, o que isso quer dizer? Tailândia que o diga: anda mais para inferno!
“Quem nos salvará dos nossos salvadores?”

Waldenir (Nino) Bernini Lichtenthaler é antropólogo.

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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Essas e outras!

Essas e outras. O governador de São Paulo nos últimos meses tem procurado tecnificar ainda mais seu trabalho técnico. Busca fazer-se valer algumas leis implementadas na época da ditadura, como por exemplo criticá-lo por parte de seus funcionários e, como não intensifica a investigação nos peritos médicos do Estado a custo de obrigá-los a negar licença médicas aos servidores. Está certo quando afirma que o Estado teve grande prejuízo com licenças nos últimos anos, quando o número aumentou 10%. Porém errado, pois os maiores motivos das licenças são por problemas psicológicos relacionados ao trabalho. Será que o governo de São Paulo ofecere condições básicas de trabalho aos servidores como preve a constituição? Existe superlotação nas escolas, penitenciárias, hospitais, ou está tudo bem? Há servidores suficientes em todos os setores? Leiam a comparação abaixo...

24/02/2008 13:59h

Divulgação

O Governador de São Paulo assume em 2010

O Governador de São Paulo
assume em 2010


Divulgação

O Governador de São Paulo
assume em 2010

SERRA, O NOSSO PUTIN


SERRA, O NOSSO PUTIN

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Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 970

. O economista Marcio Camargo diz que o presidente eleito José Serra é "o último autoritário".

. O filósofo Paulo Arantes perguntou numa entrevista à Folha "o que pensa esse rapaz (Serra) ?"

. O Conversa Afiada prefere considerar o presidente eleito "o nosso Putin".

. E chama o presidente eleito de presidente eleito, porque ele e o PIG se comportam como se a posse dele, em 2010, seja apenas uma formalidade: ele já está eleito.

. Embora, no intervalo, tenha o incômodo de governar (?) São Paulo: clique aqui para votar na enquête: O que o governador Serra já fez ?

. O jornal New York Times, de hoje, domingo 24, inicia uma série de reportagens sobre o Putin, o Putin da Rússia.

. O título é "O controle de Putin sobre a Rússia sufoca os adversários" (clique aqui para ler).

. É o que nos espera em 2010 ...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Pra quem mora em São Paulo talves isso seja mais importante do que os Cartões Corporativos do GF

CARTÃO DE SERRA FOI USADO EM CASAS NOTURNAS
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Atualizada às 16h15 desta segunda-feira, dia 18.

Dados do Sigeo (Sistema de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária), repassados ao Conversa Afiada pela liderança do PT na Assembléia, mostram que os cartões corporativos do Governo de São Paulo foram usados para pagar contas em choperias e casas noturnas.
O Sigeo mostra gastos feitos na Choperia Farol Assis e num estabelecimento chamado Comercial Santo Amaro. Os gastos realizados nesses locais e pagos com o cartão corporativo do Governo Serra somam R$ 1.031,00 e foram realizados em junho de 2006, julho de 2006 e agosto de 2007. O ramo de atividades desses estabelecimentos é discriminado no Sigeo como "casas noturnas" (clique aqui).
Os gastos feitos na Choperia Farol Assis foram pagos por um servidor da Secretaria de Saúde no dia 31 de agosto de 2007, às 17h36, e somam R$ 366. Depois, no mesmo dia 31 de agosto de 2007, o mesmo servidor foi à Cachaçaria Água Doce, às 22h03, e gastou R$ 340 com o mesmo cartão corporativo que usou na Choperia Farol Assis. Um dia depois, no dia 01 de setembro de 2007, às 14h30, o mesmo servidor voltou à Cachaçaria Água Doce e gastou mais R$ 300 com o cartão corporativo do Governo de São Paulo.
Em maio de 2002 o cartão, que estava em nome de uma servidora, que na ocasião trabalhava na Secretaria de Ciência e Tecnologia, foi usado para pagar uma conta de R$ 8 mil na Estância Alto da Serra.
A Estância Alto da Serra é uma casa de shows e tem duas unidades: uma em São Bernardo do Campo e outra no Itaim Bibi, na capital paulista. Clique aqui para saber mais sobre a Estância Alto da Serra.
Outro dado do Sigeo que chamou a atenção do líder do PT na Assembléia, deputado Simão Pedro, foi o gasto de R$ 4 mil com o cartão corporativo, entre 2005 e 2007, para pagar táxi. O que chama a atenção é o fato de os gastos com táxi serem pagos a uma mesma empresa, a Chame Táxi (clique aqui).
http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/478501-479000/478529/478529_1.html

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Educação para São Paulo

Vale a pena ler a entrevista da atual secretária de educação do Estado de São Paulo. Vale a pena porque desde já pode-se observar a visão neoliberal e empresarial deste governo. Como se já não bastasse o estrago feito em 1994, cujos frutos as atuais pesquisas demonstram, o Estado deve um grande declínio na qualidade do ensino. Pois bem, como se o grupo que governa fosse totalmente diferente dos outros mandatos, ninguém olha atrás e busca sua parcela de culpa. Cabe lembrar que São Paulo era, entre 1994/2002 o laboratório para as experiências governamentais dos líderes da época. Tirar do Estado sua parcela de culpa quanto a desqualificação do ensino - que não foi pequena - é quase que irônico. Quem não se lembra das terceirizações de funcionários, redução do número de salas de aula, enxugamento do quadro curricular? Pois bem, para quem era assessora do ex-minístro Paulo Renato, e, conviveu com isso de perto, hoje falar em reformular, qualificar e priorizar os currículos escolares soa meio estranho. Estranho mesmo é transferir a culpa da desqualificação aos professores, afirmando que a classe deve fazer "mea culpa, máxima culpa".
Ao comparar o salário dos professores com outros estados simplesmente não faz nada de estraordinários, porque tradicinalmente no Brasil, professor nunca foi bem remunerado. Outrossim, nivelar por baixo a classe como se 75% dos docentes não exercem competências cabíveis na profissão, é desmotivar grande parte, ou melhor, a maioria dos profissionais, que ao contrário de sua opinião desenvolvem bom trabalho. É correto afirmar que professores não se atualizam, estão presos ao livro didático, reclamam das condições de trabalho, porém não é a maioria.
Nos últimos anos não se viu nenhum tipo de pirotecnia na educação, a não ser as bolsas entregues pelo ex-gonvernador no ano de eleição. E, se implementar projetos como o dos CIEPS e da Escola Pedrão foi pirotecnica, o que não dizer dos IDORT, Circuito Gestão, EM em Rede, etc. É bom falar de infra estrutura na escolas, muito bom! Melhor ainda das empresas que ganham licitações para essas implementações; políticas públicas disseminadas a revelia nesses últimos 14 anos.
Quanto a qualificação do profissional da educação cabe relatar que a avaliação pode e deve ser externa, mas desde que o cliente a avalie: alunos, pais, comunidade. Não se pode entregar a diretores - na maioria das vezes designados (fora de sua sede de exercício) autonomia para mandos e desmandos nas unidades escolares. Ora, acaba-se por atribuir juntamente com o professor, grande parcela de culpa aos gestores, que na maioria das vezes, sem democracia nenhuma são obrigados a implementar projetos direcionados pedagógicos sem consultas dos parceiros: profisoinais e comunidades.
Fala-se tanto em exercício democrático, porém o que se nota é a implementação tácita e autoritária dos projetos de governo, e não de educação. E se a idéia é fechar faculdades de padagogia sem qualidade, deve-se lembrar que estas mesmas se disseminaram durante a gestão Paulo Renato no MEC. Criadas sem critérios, avaliações e acompanhamento do órgão compentente.
Talves um olhar ao passado a gestora da pasta da educação deveria observar onde foi a queda, procurar as causas, avaliar o caminho e propor mais do que planos de governo, mas políticas públicas para educação, políticas não-elitistas e conservadoras, mas cidadãs. Além de se formar para o mercado, formar-se cidadãos, críticos, autônomos, que escolhem seu próprio futuro. Assim o país (e mesmo São Paulo) poderia estar sendo alavancado das aristocracias regionais; das disputas pelos controles dos orçamentos; dos processos de tomadas de decisões; dos favorecimentos e favorecidos e priorizar o objetivo da democracia, a inclusão do povo.

Prof. PC

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Vejam só...

BOLSA FAMÍLIA É 4 VEZES MAIORQUE CANA-DE-AÇÚCAR EM ALAGOAS


O professor de economia da Universidade Federal de Alagoas Cícero Péricles de Carvalho fez um estudo sobre o impacto do Bolsa Família no Estado. A pesquisa de Carvalho foi publicada pela revista inglesa The Economist e mostra que o Bolsa Família injeta quatro vezes mais dinheiro na economia de Alagoas do que a principal atividade agrícola do Estado, que é a cana-de-açúcar.
Carvalho disse que o trabalhador alagoano recebe R$ 3,00 por tonelada de cana cortada (clique aqui para ouvir o áudio). O Estado de Alagoas produz 25 milhões de toneladas de cana por ano. Isso significa que para cortar toda a cana alagoana o patronato paga R$ 75 milhões.
"E R$ 75 milhões é todo o dinheiro colocado na renda da sociedade para o consumo, naturalmente, em função do corte da cana. O Bolsa Família representa R$ 300 milhões por ano. Ou seja, é quatro vezes mais importante do que toda a renda gerada no principal setor agrícola local", disse Carvalho.
350 mil famílias de Alagoas recebem dinheiro do Bolsa Família. Isso significa a metade das famílias de Alagoas. A outra metade, segundo Carvalho, recebem dinheiro da Previdência Social. Por isso Carvalho diz que Alagoas se tornou "a Suécia ensolarada".
"Nem a Suécia tem uma cobertura social tão extraordinária. E quando o salário mínimo tem um aumento pequeno, como agora, R$ 32,00, o impacto é muito grande porque a pobreza também é muito grande", disse Carvalho.
O estudo de Cícero Péricles de Carvalho mostra que o Bolsa Família tem impacto positivo no comércio de Alagoas e do Nordeste. Segundo o professor, o comércio de Alagoas bate recorde de vendas há 46 meses seguidos.
"Desde março de 2004 que Alagoas bate recorde sobre recorde. Mas, veja só, é recorde sobre o seu próprio consumo, mas também o dobro da média nacional. E não tem explicação econômica para isso", disse Carvalho.
A pesquisa mostra que os recursos do Bolsa Família geraram uma explosão no consumo das famílias alagoanas, sobretudo no que diz respeito ao consumo de bens duráveis, como eletrodomésticos e móveis.
Leia a íntegra da reportagem publicada na revista The Economist (traduzida):
FAMÍLIAS FELIZES
7 DE FEEVEREIRO DE 2008 / MACEIÓ
THE ECONOMIST (EDIÇÃO IMPRESSA)
Um programa de combate à pobreza inventado na América Latina ganha repercussão internacional
FALE em globalização e as pessoas pensam em produtos cruzando o mundo do leste ao oeste enquanto dólares fazem o caminho inverso. Ainda assim, a globalização funciona com idéias também. Observe-se o programa de combate à pobreza BOLSA FAMÍLIA do Brasil, o maior em todo mundo nesta categoria. Conhecido no jargão de desenvolvimento como programa de “transferência de renda por condicionalidade”, ele foi moldado (em parte) sobre um programa similar do México. Após ser testado em larga escala em diversos países da América Latina, uma versão melhorada foi recentemente implementada em Nova York na tentativa de ampliar as oportunidades para crianças oriundas de famílias pobres. Membros do Governo Federal brasileiro estiveram no Cairo esta semana para ajudar o Governo Egípcio montar um programa similar. “Governos de todo o mundo estão observando este programa”, diz Kathy Lindert do escritório do World´s Bank em Brasília, que deve iniciar programas parecidos na Europa do Leste.
O Bolsa Família atua da seguinte maneira: nas famílias que recebem menos de 120 reais ($68) por pessoa ao mês, as mães recebem um benefício de até 95 reais com a contrapartida de que seus filhos freqüentem a escola e participem dos programas de vacinação do governo. Aos municípios cabe a compilação das informações de compatibilidade e atendimento às condicionalidades, mas os pagamentos são mantidos pelo Governo Federal Cada beneficiário recebe um cartão de débito para os pagamentos mensais, contanto que as condicionalidades sejam cumpridas; do contrário (após avisos) o pagamento é suspenso. Estima-se que 11 milhões de famílias recebam o benefício, o que equivale a um quarto da população brasileira.
No Estado nordestino de Alagoas, um dos mais pobres do Brasil, mais da metade das famílias integram o Bolsa Família. Das demais, a maioria recebe pensão do Estado. “É como a Suécia ensolarada”, diz Ícero Péricles de Carvalhos, um economista da Universidade Federal de Alagoas. Até certo ponto. Por volta de 70% da população de Alagoas é analfabeta ou sequer concluiu o ensino primário. A expectativa de vida é de 66 anos, seis abaixo da média brasileira. “Em termos de desenvolvimento”, diz Sérgio Moreira, o secretário de planejamento alagoano, “Alagoas está mais próximo de Moçambique do que partes do Brasil”. A compra de votos é ampla: vendeu-se votos na última eleição para Governador por 50 reais (em média). “Pessoas chegam até nós reclamando que venderam seus votos para um político e que ele não as pagou ainda”, diz Antônio Sapucaia, o presidente do Tribunal Eleitoral de Alagoas.
Enquanto garante ajuda imediata aos pobres, o Bolsa Família almeja um objetivo de longo prazo para encerrar esta cultura de dependência em garantir que as crianças recebam uma educação melhor que os seus pais. E já há alguns sinais encorajadores. A freqüência escolar aumentou em Alagoas, bem como em todo país, graças ao Bolsa Família e a um programa anterior chamado Bolsa Escola.
O programa também ajudou a pobre região nordeste a superar a média nacional de crescimento econômico. Isso auxiliou na redução da desigualdade de renda no Brasil. Ainda que apenas 30% da força de trabalho de Alagoas de 1,3 milhão de pessoas possua um emprego formal, mais de 1,5 milhão tinham celular no ano passado. “Os pobres estão vivenciado o crescimento chinês”, diz Aloizio Mercadante, senador por São Paulo, repetindo o orgulhoso discurso do Partido dos Trabalhadores que governa o país.
Procure com atenção e é possível também encontrar negócios disseminados por esta ampliação do consumo entre os pobres. Pedro dos Santos e sua esposa Dayse montaram uma fábrica de sabonete com 20 reais na sua casa em uma favela de Maceió, capital de Alagoas. Com a ajuda de micro-crédito eles aumentaram a produção diária para 2 mil barras de sabão em pedaços cor de mostarda. Ali perto, outro beneficiário de micro-crédito abriu uma loja de bebidas, lanches e doces. Na parede da loja uma lembrança que a política do Estado custará a mudar: um pôster de campanha eleitoral com o slogan “Collor: o Senador do povo”. Fernando Collor foi obrigado a renunciar como presidente do Brasil em 1992 após seu chefe de campanha comandar um esquema ilícito de tráfico de influência. Em seu Estado, porém, a carreira política do sr. Collor é próspera.
Apesar do sucesso imediato do Bolsa Família, três preocupações continuam. A primeira diz respeito à fraude. Como o dinheiro é pago diretamente ao cartão do beneficiário, há pouco controle esta saída de dinheiro. A questão é se os governos locais estão ou não apurando informações corretas e fiscalizando o cumprimento das condicionalidades. Em torno de 15% dos conselhos municipais afirmam de maneira improvável que 100% das crianças estão na escola 100% do tempo. Apesar disso, a maior parte do dinheiro vai para as pessoas certas: 70% vai para os 20% mais pobres, afirma o World Bank.
Segundo, algumas pessoas receiam que o Bolsa Família manter-se-á como um aspecto da sociedade brasileira, e não um implemento temporário para ampliar oportunidades. Se isso acontecerá ou não dependerá em grande parte de as escolas públicas brasileiras se desenvolverão de forma rápida para garantir ensino de qualidade. Desde o começo do programa em larga escala (2003) é ainda cedo para afirmar.
Terceiro, o Bolsa Família é associado com a compra de votos. Isso é injusto. O nome de Luiz Inácio Lula da Silva é fortemente associado ao programa – mesmo entre algumas pessoas de Alagoas que sequer sabem que ele é o presidente. Mas a gratidão deles não se estende ao PT. Há sinais que prefeitos que gerenciam bem o programa são agraciados nas eleições, o que não vale para aqueles que não administram bem o Bolsa Família. Por um relativamente modesto esforço (0,8% do GDP), o Brasil recebe um bom retorno. Se ao menos o mesmo pudesse ser dito de tudo mais com que o governo gasta.

leia em: http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/478001-478500/478164/478164_1.html

Retrono ás aulas

Segunda, 18 de fevereiro de 2008 retornam as aulas na rede pública do Estado de São Paulo. Novamente com grandes propostas de alterações no sitema de ensino. Uma delas é a recuperação de 42 dias. Para isso as escolas receberam (pelo menos quase todas) material proposto pelo projeto. Entretanto como não é de se estranhar as coisas acontecem a toque de caixa. Mesmo que o cronograma das mudanças tenha sido rigorosamente cumprido, o prazo para implementação das mesmas é inadequado. Outrossim, não é apenas como uma recuperação forçada e forçosamente empurrada de cima pra baixo na clientela escolar que vai definir a melhoria na qualidade. O material é atualíssimo e apresenta grande divversificação didático-metodológica, porém nota-se ausência de um eixo norteador que possibilitem a inter e a transdisciplinaridade. Além de algumas falhas, como por exemplo ausência de cor (mapas, fotos e gráficos), o que está presente são propostas textuais e análises númericas. A fragmentação no contéudo teórico é evidente, o que se estampa com clareza principalmente nos aspectos espaço temporias particionados. O que se questiona não é a tentativa, mas se a maneira como ela chega pode surtir resultados. È esperar pra ver. Se assim for, melhor pra sociedade paulista, e pros própositos do Estado. Se não, quem serão os culpados. Seria porventura os professores? A rapidez das mudanças pode ser benéfica? Ou os números responderão novamente num futuro próximo. O molelo do choque de gestão do governo paulista em 1994, ou "choque neoliberal" já trouxe resultados. As pesquisas recentem explicaram quais. Vale observar.
Prof. PC Geografia

Observem a imprenssa brasileira...

Freud explica! Explica?
por Izaías Almada
Afinal, é o Brasil que pauta a mídia ou é a mídia que passou a pautar o Brasil? Liberdade ou libertinagem de imprensa? A democracia deve ser preservada para o bem de todos ou deve ser tutelada para o bem de alguns? A liberdade de expressão vale para todo e qualquer cidadão ou apenas para aqueles que têm colunas e editoriais jornalísticos e televisivos? Vale para os movimentos sociais ou vale apenas para os lobbies da direita golpista? Confundir conscientemente verdades e mentiras não será um perigoso jogo antidemocrático? Condenar sem provas, uma atitude irresponsável? Opinião pública é apenas a opinião da classe média cansada ou é a opinião da maioria dos cidadãos?Não sou psicólogo, nunca tive a intenção de ser, nem tenho conhecimentos que me habilitem a fazer análises da conjuntura política brasileira – se for o caso - sob esse prisma. Contudo, pertenço ao rol daqueles 170 milhões de brasileiros que entendem de tudo e não entendem de nada ao mesmo tempo. Desse Brasil pós-moderno e neoliberal. Nesse aspecto, sim, considero-me capacitado a dar opinião, como qualquer cidadão a falar sobre a seleção de futebol, sobre política ou sobre o Lalau e o Paulo Maluf. Mas, voltando à psicologia. Já é famosa e gasta entre nós a expressão “Freud explica!”. A expressão, usada ad nauseam significa que a preocupação excessiva – individual ou coletiva – sobre determinada questão, sobre determinado assunto, pode significar, grosso modo, que a pessoa ou o grupo de pessoas preocupadas age, no seu inconsciente, de maneira diferente (e até mesmo oposta) àquilo que dá origem à sua preocupação. Em outras palavras: se eu não consigo alcançar as uvas maduras e fresquinhas de uma parreira, eu posso dizer que elas ainda estão verdes. Ou, se a namorada do meu vizinho é mais bonita do que a minha, eu sempre poderei dizer, “é... mas em mulher a beleza não é tudo”.E já que estamos no terreno do popular – essa condição social da qual Jorge Bornhausen e FHC e seus partidários têm tanto horror, existem também alguns ditados muito apropriados para explicar o inconsciente de um indivíduo, de uma coletividade ou de uma corporação. Ditados como “é o porco falando do toucinho” ou “o roto falando do rasgado”, que demonstram a falta de critérios ou de autoconhecimento na avaliação de uma determinada questão, em particular quando queremos imputar aos outros aquilo que muitas vezes fazemos às escondidas. Tomemos a ética como exemplo, esse conceito filosófico que estuda o comportamento humano sob a ótica do que é certo ou errado ou do bem e do mal. De repente, a imprensa brasileira descobriu a ética, alguns velhos políticos brasileiros descobriram a ética. Alguns filósofos, profissionais do assunto, trataram de deitar falação sob os holofotes da mídia, deleitando-nos a nós pobres mortais e ignorantes das questões de honestidade, justiça e democracia, com sua sapiência sobre a ética e o comportamento exemplar que cada cidadão deve ter perante a sociedade, numa generalização mais ao gosto dos livros de auto-ajuda e dos programas de culinária do que propriamente à luz da ciência social.E agora juntemos os ingredientes e formulemos a seguinte questão: por que só agora a mídia, setores da oposição como DEM e PSDB, alguns e pequenos setores da chamada elite econômica (alguns se querem até intelectuais) resolveram que o Brasil passa por uma crise de ética? Não leram esses senhores sobre a formação histórica do Brasil? Desconhecem as capitanias hereditárias e o sistema de heranças e transmissão de terras? Ignoram a escravidão e suas seqüelas entre a população negra e mulata no Brasil? Não somos todos herdeiros de um sistema político clientelista e apodrecido, cuja compra de votos foi sempre a regra e não a exceção, inclusive para o estabelecimento da reeleição em proveito próprio, como fez Fernando Henrique Cardoso e seu incorruptível escudeiro Sérgio Mota?Ah, quanta hipocrisia! Como o papel em branco e o microfone e a câmera de TV, ligados, aceitam tudo, nada mais fácil hoje em dia para os que detêm o poder da informação em levantar calúnias e mentiras contra seus adversários, mesmo que existam aqui e ali alguns deslizes praticados pelos acusados, mas que os próprios acusadores já cometeram algum dia (alguns até mais graves do que os anunciados). E falam todos de boca cheia contra a grande crise de ética no país em defesa da democracia e da liberdade de imprensa, como nunca se viu antes! E a entrega da Vale do Rio Doce a preço de banana? E a CPI Abril - TVA? E a CPI do Banestado? E as concorrências públicas no Estado de São Paulo, esse ninho de tucanos acima de qualquer suspeita? E as bonecas do “Cansei”?Perdoem-me o inevitável e surrado lugar comum: Freud explica!

Izaías Almada é escritor e dramaturgo. Autor, entre outros, do livro TEATRO DE ARENA: uma estética de resistência, Ed. Boitempo.
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Apresentação

Esse blog tem como objetivo promover interatividade com pessoas que partilham de idéias democráticas. Esta proposta possibilita uma conexão direta entre professor e aluno, discutindo principalmente questões sobre a disciplina Geografia, sobre Educação, política e sociedade. Pretende-se aqui disponibilizar material que possa auxiliar alunos no estudo da disciplina curricular ao longo do ano letivo, como também interagir sobre outros temas.

Prof. Pc