sábado, 12 de julho de 2008

Semana cheia! País vazio institucionalmente...

Não é na Dinamarca, é aqui

11/07 - 18:26 - Alberto Dines

Agora é Eike Batista, o Midas que transforma em grandes negócios tudo o que toca. Nos últimos dias a cena esteve ocupada pela telenovela de fraudes e trambiques protagonizada por Daniel Dantas que já se arrasta há mais de uma década. Com ele a Polícia Federal prendeu o especulador Naji Nahas (que quebrou a Bolsa de Valores do Rio no fim dos anos 80) e levou junto o ex-prefeito Celso Pitta, filhote de Paulo Maluf, o mesmo que anda às voltas com a Justiça desde que experimentou os prazeres do poder.

O Estado brasileiro precisa de uma colonoscopia urgente para avaliar o calamitoso estado dos seus intestinos. Precisa de alguém apto a fazer a anamnese (histórico clínico) minimamente confiável. Acontece que o governo - administrador e defensor do Estado - é uma entidade inconfiável porque além de paciente é também agente. Enfermo e enfermidade: sente dores, sintomas, mas não tem condições de tratá-los.

A sucessão de conflitos e contenciosos que estouram a cada 12 horas originam-se na própria incapacidade do Executivo de sobrepor-se aos litigantes simplesmente porque ele também litiga nos desvãos. É parte, portanto suspeito.

A pressa da Polícia Federal em colocar o “gênio” Daniel Dantas no xilindró tem a ver com a consumação dos acordos destinados a criar a super-tele, a operadora de telefonia resultante da fusão OI-Brt (Brasil Telecom), incentivada e empurrada pelo governo. Ou um segmento dele.

Diante de um Congresso esvaziado, uma oposição convertida em federação de candidaturas, um ministro da Justiça atropelado pelos fatos e um chefe de Estado empoleirado nos palanques, a crise ganha dimensões preocupantes porque ultrapassa a questão da “espetacularização das ações policiais”.

Estamos diante de uma grave crise institucional e, como se não bastasse, com características surpreendentes, pois não se trata de poderes que colidem, mas de confrontos corporativos, intestinos que extravasam, se contagiam e contaminam todo o ambiente.

Há pelo menos duas alas na Polícia Federal, uma delas muito aguerrida, acelerando o bulldozer e aliada ao Ministério Público. Um juiz de primeira instância próximo deste segmento se rebela abertamente contra decisão do presidente da suprema corte e, além disso, autoriza o “monitoramento” do seu gabinete.

Neste dramático pandemônio, lobistas e advogados agem nos corredores palacianos cuidando nas altas esferas dos interesses de clientes nem sempre coincidentes com os interesses do governo e do Estado. Chocante e doloroso, o caso do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, campeão na luta dos direitos humanos, ex-deputado do PT e membro do seu Diretório Nacional que procura o chefe-de-gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, para livrar Daniel Dantas das pressões de um delegado “meio descontrolado” (Protógenes Queiroz, o encarregado da Operação Satiagraha que provocou o furacão jurídico-policial).

E como chegam à sociedade tais aberrações? Por vazamentos, dicas, meias informações e contra-informações sopradas para a imprensa pelas diferentes facções. O vazio de poder é físico e metafísico. Faltam referências, contestações, murros na mesa e, principalmente presenças. Autoridades evaporaram e a autoridade desapareceu.
O narrador viajou para os antípodas e como os fatos são confusos, sobraram delirantes versões. E os cheiros.


fonte: www.observatoriadaimprensa.org

sábado, 17 de maio de 2008

Uma boa reflexão de como é difícil vencer o atraso!

Assim como um Juíz absolve o mandante de um crime anunciado, o fazendeiro que articulou a morte de uma missionária - que teve repercussões na mídia internacional, e a imprensa brasileira pouco divulga, a mesma imprensa se preocupa em vazar dossiês levados atá a redação de uma "revista" sem nenhum critério de análise, é motivo de CPI e leva o povo a entender que não se pode levantar as contas de ex-políticos por ser anti-ético. É bom refletir!

CONFLITOS AGRÁRIOS
Um novo olhar sobre a questão da terra

Por Luciano Martins Costa em 13/5/2008

A recente absolvição do fazendeiro acusado de mandar matar a missionária Dorothy Stang oferece uma oportunidade para observar como a imprensa brasileira parece atônita diante da questão indígena e da questão agrária. Colocando-se de lado o fato de que a imprensa, não apenas no Brasil, mas também no exterior, não parece duvidar de que o fazendeiro Vitalmino Moura foi o mandante do assassinato, é interessante notar como chegam aos moradores das grandes cidades os fatos do interior do País.

De modo geral, a leitura de jornais e revistas revela uma visão romantizada da população indígena, que induz à produção de reportagens com abordagem paternalista ou condescendente. Até o ponto em que o índio, quando protagonista, aparece como obstáculo ao desenvolvimento ou no papel de agente de resistência à expansão da atividade econômica organizada pelo branco. Neste ponto, repete-se o viés com que a imprensa enxerga a própria floresta ou o cerrado, ou o patrimônio ambiental em geral: o crescimento econômico vem em primeiro lugar entre as prioridades.

Não se deve, com isso, concluir que a imprensa brasileira é contrária à preservação do meio ambiente, ou que seja favorável à expansão ilimitada de pastagens e plantações de soja sobre o cerrado ou as florestas tropicais. A imprensa é, a seu modo, defensora da "natureza", mas isola esse tema da questão do desenvolvimento, como se isso fosse possível ou recomendável. Esta é provavelmente a razão pela qual parece esquizofrênica uma publicação que coloca nas ruas uma edição especial sobre a Amazônia e, ao mesmo tempo, em seu noticiário de rotina, trata como criminosos os indígenas que se defendem da invasão de grileiros ou garimpeiros ou os sem-terra que bloqueiam estradas e exigem uma ação mais efetiva do governo na gestão territorial das terras agriculturáveis.

Grileiros e agronegócio

A imprensa parece ignorar que aqueles aventureiros brancos presentes em terras indígenas são, quase sempre, a tropa de choque dos chamados empreendedores rurais. Não poucos entre os grandes do agronegócio começaram ou expandiram seus latifúndios usando a mão-de-gato de grileiros e armando pistoleiros para "limpar" o caminho. Não faz muito mais do que vinte anos que o falecido deputado e fazendeiro João Branco se vangloriava, no Acre, de resolver a bala as dificuldades para a expansão de seus negócios e que uma famigerada quadrilha de policiais militares ofertava serviços de pistolagem, tendo o mais notório de seus líderes, o coronel Hildebrando Paschoal, alcançado as manchetes pela prática de, digamos, "desmobilizar" seus adversários com a ajuda de uma moto-serra

A rigor, nenhum editor admitiria que sua visão da questão agrária se aproxima mais do pensamento vivo de Hildebrando ou de João Branco do que da missionária Dorothy Stang. Tampouco se poderia acusar a imprensa de considerar aceitável o uso da violência como meio de resolver disputas por terra, mas de modo geral se pode afirmar que, ideologicamente, a imprensa penderia mais a favor de um Hidebrando sem moto-serra do que de um João Pedro Stédile sem seu alicate de cortar arame farpado.

O problema é que não há muitas formas de encarar o problema da gestão territorial, seja do ângulo da organização da produção agrícola, seja diante da questão da acomodação de indígenas e quilombolas em porções de terra adequadas ao seu modo tradicional de vida. O que transcende da leitura de jornais e revistas é que a concessão dessas terras representa um desperdício de recursos, uma vez que, vista das redações, a atividade dessas comunidades não produz nem uma fração da riqueza que brota das pastagens ou das plantações dos brancos. Talvez fosse o caso de se perguntar a certos articulistas se eles preferem ver os descendentes de quilombolas morando nas favelas das cidades.

Interesse nacional

A imprensa, de modo geral, vê a produção agrícola e a gestão territorial exclusivamente do ponto de vista da relação custo-benefício econômica, num sentido de economia muito questionável, uma vez que a organização da economia deve também objetivar a resolução ou prevenção de problemas sociais, pela oferta de oportunidades mais amplas. Neste sentido, a pouca e mais custosa produção que atende e garante qualidade de vida a uma comunidade quilombola pode ser mais importante para o interesse do país do que aquela que oferece números estupendos, mas beneficia um grupo minúsculo de acionistas.

Este é o debate que não está presente na imprensa brasileira, mesmo sabendo-se que o Brasil tem terras agriculturáveis em extensão suficiente para a expansão do agronegócio, para assegurar o desenvolvimento da agricultura familiar onde existe a cultura apropriada, e para permitir a continuidade dos modos de vida tradicionais que se alimentam da terra. Nenhum governo produziu até hoje no Brasil uma estratégia que contemplasse essas diferentes formas de exploração da terra, e os conflitos, como o que resultou, em 2005, no assassinato da missionária Dorothy Stang, seriam perfeitamente evitáveis se tivéssemos uma estratégia sustentável para a questão agrária e o patrimônio ambiental.

Conceito de desenvolvimento obsoleto

O governo nunca elaborou uma estratégia abrangente, e a imprensa passa ao largo dessa idéia porque vive amarrada a um conceito de desenvolvimento obsoleto que, até aqui, só aumentou as diferenças sociais e, se vem apresentando algum resultado nos últimos anos, é justamente pela combinação do planejamento centralizado com políticas emergenciais de transferência de renda. Por não ter em sua rotina a prática de abordar esse conjunto de temas de maneira sistêmica é que a imprensa brasileira surpreendeu no último final de semana, especialmente a Folha de S.Paulo e O Globo. A Folha porque destacou, como manchete no domingo, o risco da volta do terror representado pelos pistoleiros nas regiões de conflito constante, como a área, no Pará, onde foi assassinada a missionária. O Globo, pelo levantamento das terras agriculturáveis ociosas, informação que ajuda a pensar numa reforma agrária capaz de aliviar a disputa por terras nas fronteiras agrícolas que permanentemente ameaçam as florestas e cerrados. Também o Estadão contribui para o debate sobre o tema, embora tenha limitado sua abordagem à repercussão da morte de Dorothy Stang.

O mais comum é encontrar na imprensa artigos, editoriais ou mesmo reportagens questionando a concessão de terras a comunidades indígenas ou quilombolas, com o argumento de que os beneficiários dessas concessões ganham o direito simplesmente declarando que são indígenas ou descendentes dos habitantes das antigas comunidades de africanos fugidos da escravidão ou da miséria pós-"libertação". Omite-se ou ignora-se o fato de que, tanto os guaranis do Brasil como os sapmis da Suécia ou os sasqatchewan do Canadá são assim considerados quando declaram sua ascendência e têm essa declaração confirmada pela comunidade a que afirmam pertencer.

É um critério internacional de identificação de populações nativas, definido pela ONU e aceito pela maioria dos países, inclusive o Brasil, há muito tempo. Não se trata, como faz crer a imprensa, de uma invenção do atual governo ou de militantes de organizações de direitos humanos. É uma forma de preservar direitos centenários ou milenares, que um sistema econômico predador vinha eliminando.

No momento em que o Brasil é convocado a melhorar sua produção agrícola por conta da mudança na matriz de combustíveis e pela necessidade de oferecer mais alimento ao mercado global, a imprensa prestaria um bom serviço se ajudasse a pressionar o governo por políticas mais justas e efetivas no ordenamento do uso da terra. Mas, para isso, seria preciso que a imprensa perdesse o medo de encarar as questões agrária, ambiental e social como se fossem pautas isoladas.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Faz tempo que não atualizo os artigos. Mas agora vai ai um especial. Pelo benefício da dúvida, prefiro ficar com o povo boliviano - a maioria.!

MÍDIA & POLÍTICA
Na Bolívia, imprensa só dá espaço a separatistas

Por Mário Augusto Jakobskind em 6/5/2008

Publicado originalmente no TemNotícia , 30/4/2008

A Bolívia está passando por um momento difícil. A direita, com o apoio da embaixada dos Estados Unidos, está mobilizada e joga com a divisão do país. Neste próximo domingo, 4 de maio, está promovendo um plebiscito ilegal em Santa Cruz de la Sierra para decidir pela autonomia da chamada Meia Lua, região do país onde empresários e setores que sempre estiveram vinculados ao retrocesso e à exploração do povo não aceitam o governo de Evo Morales. Estes grupos, que controlam os meios de comunicação em sua quase totalidade, não escondem o racismo que cultivam com demonstrações de ódio aos indígenas, a maioria da população boliviana (mais de 60%).

Quanto à mídia, o panorama é dos mais negativos. Os meios de comunicação conservadores, os mesmos que defendem a liberdade de imprensa na Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), entraram de sola na campanha em favor do separatismo. Predomina o velho e surrado esquema do pensamento único, ou seja, todo o espaço a quem está do lado da direita e nada para quem combate a ilegalidade do separatismo.

Em Santa Cruz, segundo relato do jornalista boliviano Grover Cardozo, rádios, canais de televisão e jornais estabeleceram um canal direto com o chamado Comitê Cívico Pró-Santa Cruz e a prefeitura, enquanto os espaços alternativos deixaram de lado o medo e tomam as ruas e as praças para protestar contra o samba de uma nota só dos veículos tradicionais.

Fato consumado

É esta a democracia que os defensores do separatismo apregoam. Ou seja, uma democracia que só dá vez e voz aos que pensam em se separar da Bolívia. Um dos maiores aliados é a embaixada estadunidense, cujo titular é nada mais nada menos que Philip Goldberg. Este representante do governo de George W. Bush aparentemente pode nada significar. Mas se for mais analisado, verifica-se que de ingênuo não tem nada, muito pelo contrário. Este senhor desempenhou a mesma função de embaixador estadunidense nos anos 90, quando da divisão da Iugoslávia. Teve atuação intensa, estimulando a ação dos grupos separatistas. A Iugoslávia acabou se pulverizando em vários países. A nomeação de Goldberg para a Bolívia no ano passado não foi por acaso. Veio cumprir uma missão.

O plebiscito convocado para este domingo não foi reconhecido pela Justiça, tampouco pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Não terá, portanto, qualquer valor legal. Soma-se a isso o tipo de cobertura midiática que a mídia tradicional está realizando e pode-se ter uma idéia do verdadeiro objetivo da convocação. Isto é, os separatistas, com apoios internacionais óbvios, querem criar um fato consumado que poderá levar a Bolívia a uma situação de extrema gravidade. Esta gente não prega prego sem estopa.

Passada a limpo

Tudo que está sendo feito é calculado com antecedência, milímetro por milímetro. Pior, os meios de comunicação conservadores empenhados na campanha ainda se autodenominam democratas. Estes "democratas" já apoiaram os vários ditadores que assolaram a Bolívia nos anos da Guerra Fria e, quando do período democrático, ficavam do lado do então presidente Gonzalo Sánchez de Losada, apologista do modelo neoliberal, repudiado pela ampla maioria do povo boliviano, e que hoje vive nos Estados Unidos. A extradição deste senhor, que fala espanhol com sotaque estadunidense já foi pedida pela Justiça boliviana, mas dificilmente os Estados Unidos a concederão. Sánchez de Losada, por sinal, ainda deve ser julgado pelas acusações que pesam sobre ele, inclusive pela morte de bolivianos em protestos contra o seu governo e outros desrespeitos aos direitos humanos.

Os separatistas, golpistas por natureza, querem voltar ao poder, exatamente para colocar em prática uma política de favorecimento a uma minoria de privilegiados, os mesmos que hoje não aceitam Evo Morales como presidente da República. Não se conformam com o fato de a Bolívia estar sendo passada a limpo depois de tantos anos de exploração do povo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Os novos terroristas da mídia

por Marcelo Salles

Poucas vezes uma reportagem a respeito do MST foi tão distorcida quanto a do Jornal Nacional da última quarta-feira. Nos dois minutos e vinte e quatro segundos da matéria busca-se a criminalização dos camponeses; para tanto, imagens e palavras são cuidadosamente articuladas para transmitir ao telespectador a idéia de que os militantes do movimento são os responsáveis por todo o medo que ronda os paraenses.
Logo na abertura da matéria, o fundo escurecido por trás do apresentador exibe a sombra de três camponeses portando ferramentas de trabalho em posições ameaçadoras, como a destruir a cerca cuidadosamente iluminada pelo departamento de arte da emissora. Quando os militantes aparecem nas imagens, estão montando o acampamento e utilizando folhas de palmeiras - naturalmente já arrancadas das árvores. Quando a matéria corta para ouvir a opinião de um empresário local, ele tem ao fundo exatamente uma folha de palmeira, só que firme no solo - vistosa e viva. O representante da Vale do Rio Doce é o que tem mais tempo para se manifestar, até gagueja e balbucia: "esses movimentos... estão [nos] impedindo de trabalhar". Em nenhum momento os representantes do MST são ouvidos, o que contraria, inclusive, as próprias regras do manual de jornalismo da Globo. Mas quando os interesses comerciais de empresas amigas estão em jogo essas regras são postas de lado.
Outro dado marcante desta reportagem é a descontextualização dos fatos. O telespectador é apenas informado que o MST “ameaça invadir a Estrada de Ferro Carajás, da Companhia Vale”, mas não se explica que esta ação direta tem uma origem: a privatização fraudulenta da empresa que era estatal. A companhia foi leiloada, em 1997, por R$ 3,3 bilhões. Valor semelhante ao lucro líquido da empresa obtido no segundo trimestre de 2005 (R$ 3,5 bi), numa clara demonstração do prejuízo causado ao patrimônio nacional. Desde então, cidadãos e cidadãs vêm promovendo manifestações políticas e ações judiciais que têm por objetivo chamar a atenção da sociedade e sensibilizar as autoridades competentes para anular o processo licitatório. Se há uma diferença brutal entre discordar de uma determinada opinião e omiti-la, este caso torna-se ainda mais grave porque não se trata de uma opinião, e sim de um fato político: a privatização da Vale é questionada na Justiça – e com grandes chances de ser revertida. Ao sonegar esta informação, a Globo comete um crime.
Com a mesmíssima parcialidade age o jornal carioca O Globo. A reportagem publicada no mesmo dia sobre o MST não deixa dúvidas quanto a posição contrária do jornal. A chamada na capa diz: “MST desafia a Justiça e volta a ameaçar a Vale”; o pequeno texto, logo abaixo, aprofunda a toada: “O MST ameaça descumprir ordem judicial e invadir novamente a ferrovia de Carajás, da Vale, no Pará. Moradores da região estão atemorizados, com a cidade cercada por mais de mil militantes do MST, a quem acusam de terrorismo”. A reportagem principal, à página 9, é acompanhada de outra de igual tamanho. Ambas ouvem apenas a versão da mineradora privatizada pelo governo tucano de FHC. Imediatamente abaixo, como a reforçar a visão policialesca, uma fotografia de um homem morto sobre o título: “Em Porto Alegre, um flagrante de homicídio”. Nenhum dos dois veículos (O Globo e JN) registrou o apoio recebido pelo MST por artistas, intelectuais e lideranças partidárias.
Esta falsa preocupação do Globo com a defesa do povo brasileiro não é de agora. O mesmo jornal que sugere que os militantes do MST são terroristas há 44 anos agiu da mesma foram quando um golpe de Estado derrubou o presidente constitucional João Goulart. Em texto editorial do dia 2 de abril de 1964, o “Globo” assinalou:
- Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas (...) para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas (...), o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições (...)
Assim como para o “Globo” os inimigos do passado eram aqueles que se insurgiam contra a ditadura que seqüestrou, torturou e matou milhares de brasileiros, hoje os terroristas são aqueles que lutam contra as multinacionais que roubam o patrimônio público, danificam o meio-ambiente e produzem graves problemas sociais. É por isso que ao interromper o fluxo de exportação de uma dessas empresas os militantes do MST acertam em cheio no sistema nervoso do capitalismo. Dotados apenas de enxadas e coragem, os sem-terra enfrentam jagunços armados, policiais e poderosos grupos de comunicação - esse coquetel que tem como objetivo massacrar o povo organizado. Os militantes do MST ensinam ao povo brasileiro: não é uma luta justa, mas é uma luta que pode ser vencida.
Por outro lado, o jornalismo dos Marinhos mais uma vez revelou seu caráter covarde e submisso. Aliou-se aos poderosos e rasgou o juramento profissional da categoria, sobretudo no seguinte trecho: "A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade".
Mas não há de ser nada. A História vai se ocupar de reservar a cada qual seu devido lugar.

Marcelo Salles é correspondente da Caros Amigos no Rio de Janeiro e editor do jornal Fazendo Media (www.fazendomedia.com).

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Serra e a Educação em São Paulo

A 1ª etapa da Proposta Curricular para São Paulo finalizou-se na semana passada quando nos dias 03 e 04 de abril foi feito um planejamento avaliando o trabalho do 1º mês. Alguns pontos positivos podem ser destacados como por exemplo a atualização dos conteúdos em diversas disciplinas. A dedicação dos alunos foi quase 100%, porém acharam estranho a forma como a proposta foi aplicada. Os professores também se dedicaram, visto que revelou-se que o principal problema da educação em São Paulo não são os professores.
Todavia algumas coisas podem ser repensadas. Alguma coisa tinha que ser feita. Seria impossível entender a queda na educação em São Paulo, a baixa qualidade sem tomar-se providências, justamente por parte de um governo que pretende a presidência da república. Doravante é bom explicar que o problema em São Paulo não é novo, nem mesmo é esse governo que o causou e nem será ele quem vai solucionar. O que se nota nesta política é o mesmo que se notou em outros tempos. Políticas de governo, e não políticas públicas. Pretende-se alcançar metas, números. Embora as avaliações externas sejam numéricas o problemas é bem mais embaixo. Os números não revelarão tudo que se passa ou se passou, mesmo que acrescentem melhorias.
Há mais de 14 anos esse governo tem mal tratado a educação no Estado de São Paulo, aplicando políticas governistas, eleitoreiras e assitindo o diagnóstico de queda sem dar atenção devida.
A política de terceirização (não somente na educação) já se revelou um tanto que perigosa para o setor público. A educação não pode ser tratada como um serviço que se empreita, como contruções, coleta de lixo, tratamento de água, eletricidades, etc. A educação é um bem universal!
Embora existam boas intenções na proposta, não é com base numa políticia americana onde os jovens planejam espetáculos de violência, show bélicos e assassinatos, que a nossa proposta deva ser pautada. Falou-se muito dos modelos internacionais. O ideal é criar-se um modelo brasileiro, ímpar, onde os problemas brasileiros devam ser diagnosticados e tratados.
Outro aspecto é que o governo de São Paulo escora-se na mídia (através de acordos neoliberais) para apresentar um diagnóstico onde os professores, pilares do sistema são desqualificados, como se fossem únicos responsáveis pela falta de qualidade. Um dos principais fatores é sim, a ausência de propostas criativas e formuladas com base nos modelos nacionais de educação. A ausência de investimento em qualidade está marcada principalmente pela presença do modelo terceirizado na formulação dos projetos. As equipes que confeccionaram o material, são terceirizadas, não convivem com o quadro de crise marcado há mais de 14 anos. Os curso que capacitam professores também são de cujo terceirizado, visto o descaso na articulação entre orientando, orientador, cronograma e planejamento. O material, após ser revisto, tem marca profundamente ideológica, onde se desqualifica políticas do governo federal, qualificando-se uma nefasta perda de recursos em São Paulo na última década (ver exemplo no jornal de geografia da 7ª e 8ª séries em relação IDH e GINI).
Para tanto, a política de governo (e não pública) acrescenta algumas incosntitucionalidades, como por exemplo a retirada das disciplinas Sociologia e Psicologia do currículo do Ensino Médio, e Geografia na 3ª série do EM sendo adequada a parte diversificada, retirada da base comum.
a data base do salário dos professores que exige correção de acordo com inflação do período nem sequer é falada e a estratégia de impor verticalmente via Diretoria de Ensino e Diração de Escolar a "Proposta" deixa de ser proposta, passando a ser imposição Curricular.
Mesmo cumprindo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, e financiando material escolar produzido por equipes terceirizadas e organizando uma estrutural de material físico junto as empresas concorrentes para fornecer bens e serviços o governo de São Paulo demonstra mais uma vez uma preocupação descabida, prioriza-se o supérfluo e minimiza o essencial.
Com uma equipe acostumada com o poder é estranho perceber que nem mesmo o grupo político ainda não viu, e enxergou, digo, enxergou, uma grande parcela de culpa originária nos próprios meandros de suas políticas neoliberais que apresentam fracassos em toda América Latina, na educação francesa, na itália, e principalmente nos EUA, gerando como principal fruto a violência.
De fato, professores precisam se preparar no cotidiano, sempre se adapatando, renovando, construindo, porém a classe dominante, o poder estruturado deve observar o quanto errou para refazer os erros e torná-los acertos.
Ainda necessita-se urgentemente de uma política pública para a educação de São Paulo e menos política de governo. Os recurso do FUNDEB estão aí (apesar do atraso devido obstruções equivocadas nas votações no congresso); a arrecadação de impostos cresce, porém a distribuição, o retorno talvez seja mal distribuído.
Embora tudo pareça mais um evento em ano de eleição as esperanças são grandes. Como diria Carlos Drumond de Andrade, "vamos de maõs dadas"! A sociedade entende com clareza a cada dia, nem mesmo a mídia ideológica engana mais, resta saber se os gestores da Proposta pensam como o poeta: "vamos de mãos dadas"!
Prof. PC

sábado, 29 de março de 2008

A invenção da crise - Marilena Chauí

Este texto vem elucidar a clareza dos fatos na política nacional depois da eleição de Lula para presidente. Marilena Chauí, com propriedade, esboça algumas razões das crises políticas no Brasil, que nada mais são do que lutas de classes. Vale a Pena ler e copiar! Prof. PC

Era o fim da tarde. Estava num hotel-fazenda com meus netos e resolvemos ver jogos do PAN-2007. Liguei a televisão e "caí" num canal que exibia um incêndio de imensas proporções enquanto a voz de um locutor dizia: "o governo matou 200 pessoas!". Fiquei estarrecida e minha primeira reação foi típica de sul-americana dos anos 1960: "Meu Deus! É como o La Moneda e Allende! Lula deve estar cercado no Palácio do Planalto, há um golpe de Estado e já houve 200 mortes! Que vamos fazer?". Mas enquanto meu pensamento tomava essa direção, a imagem na tela mudou. Apareceu um locutor que bradava: "Mais um crime do apagão aéreo! O avião da TAM não tinha condições para pousar em Congonhas porque a pista não está pronta e porque não há espaço para manobra! Mais um crime do governo!". Só então compreendi que se tratava de um acidente aéreo e que o locutor responsabilizava o governo pelo acontecimento. Fiquei ainda mais perplexa: como o locutor sabia qual a causa do acidente, se esta só é conhecida depois da abertura da caixa preta do avião? Enquanto me fazia esta pergunta e angustiada desejava saber o que havia ocorrido, pensando no desespero dos passageiros e de suas famílias, o locutor, por algum motivo, mudou a locução: surgiram expressões como "parece que", "pode ser que", "quando se souber o que aconteceu". E eu me disse: mas se é assim, como ele pôde dizer, há alguns segundos, que o governo cometeu o crime de assassinar 200 pessoas?
1) Que papel desempenhou a mídia brasileira – especialmente a televisão – na "crise aérea" ?
O que mais impressiona é a velocidade com que a mídia determinou as causas do acidente, apontou responsáveis e definiu soluções urgentes e drásticas!
No plano político, a invenção da crise aérea simplesmente é mais um episódio do fato da mídia e certos setores oposicionistas não admitirem a legitimidade da reeleição de Lula, vista como ofensa pessoal à competência técnica e política da auto-denominada elite brasileira. É bom a gente não esquecer de uma afirmação paradigmática da mídia e desses setores oposicionistas no dia seguinte às eleições: "o povo votou contra a opinião pública". Eu acho essa afirmação o mais perfeito auto-retrato da mídia brasileira!

Do ponto de vista da operação midiática propriamente dita, é interessante observar que a mídia:

a) não dá às greves dos funcionários do INSS a mesma relevância que recebem as ações dos controladores aéreos, embora os efeitos sobre as vidas humanas sejam muito mais graves no primeiro caso do que no segundo. Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não é? Já a classe média e a elite... bem, é diferente, não? A dedicação quase religiosa da mídia com os atrasos de aviões chega a ser comovente...

b) noticiou o acidente da TAM dando explicações como se fossem favas contadas sobre as causas do acontecimento antes que qualquer informação segura pudesse ser transmitida à população.

c) estabeleceu ligações entre o acidente da GOL e o da TAM e de ambos com a posição dos controladores aéreos, da ANAC e da IFRAERO, levando a população a identificar fatos diferentes e sem ligação entre si, criando o sentimento de pânico, insegurança, cólera e indignação contra o governo Lula. Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia e a repetição descontextualizada de frases de Guido Mântega, Marta Suplicy e Lula;

d) definiu uma cronologia para a crise aérea dando-lhe um começo no acidente da GOL, quando se sabe que há mais de 15 anos o setor aéreo vem tendo problemas variados; em suma, produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula;

e) vem deixando em silêncio a péssima atuação da TAM, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes, desde 1996, três deles ocorridos em Congonhas e um deles em Paris – e não dá para dizer que as condições áreas da França são inadequadas! A supervisão dos aparelhos é feita em menos de 15 minutos; defeitos são considerados sem gravidade e a decolagem autorizada, resultando em retornos quase imediatos ao ponto de partida; os pilotos voam mais tempo do que o recomendado; a rotatividade da mão de obra é intensa; a carga excede o peso permitido (consta que o AIRBUS acidentado estava com excesso de combustível por haver enchido os tanques acima do recomendado porque o combustível é mais barato em Porto Alegre!);

2) Como a sra. avalia a reação do Governo Lula à atuação da mídia nesse episódio?

Fraca e decepcionante, como no caso do mensalão. Demorou para se manifestar. Quando o fez, se colocou na defensiva. O que teria sido politicamente eficaz e adequado? Já na primeira hora, entrar em rede nacional de rádio e televisão e expor à população o ocorrido, as providências tomadas e a necessidade de aguardar informações seguras.

3) Em "Leituras da Crise", a sra. discute a tentativa do impeachment do Presidente na chamada "crise do mensalão". Há sra. vê sinais de uma nova tentativa de impeachment ?

Sim. Como eu disse acima, a mídia e setores da oposição política ainda estão inconformados com a reeleição de Lula e farão durante o segundo mandato o que fizeram durante o primeiro, isto é, a tentativa contínua de um golpe de Estado. Tentaram desestabilizar o governo usando como arma as ações da Polícia Federal e do Ministério Público e, depois, com o caso Renan (aliás, o governador Requião foi o único que teve a presença de espírito e a coragem política para indagar porque não houve uma CPI contra o presidente FHC, cuja história privada, durante a presidência, se assemelhou muito à de Renan Calheiros). Como nenhuma das duas tentativas funcionou, esperou-se que a "crise aérea" fizesse o serviço. Como isso não vai acontecer, vamos ver qual vai ser a próxima tentativa, pois isso vai ser assim durante quatro anos.

Os meios de informação e comunicação julgam ter tomado o lugar dos deuses e da natureza e por isso são onipotentes – ou melhor, acreditam-se onipotentes. Penso que a mídia absorve esse aspecto metafísico das novas tecnologias, o transforma em ideologia e se coloca a si mesma como poder criador de realidade: o mundo é o que está na tela da televisão, do computador ou do celular. A "crise aérea" a partir da encenação espetacularizada da tragédia do acidente do avião da TAM é um caso exemplar de criação de "realidade". Mas essa onipotência da mídia tem sido contestada socialmente, politicamente e artisticamente: o que se passa hoje no Iraque, a revolta dos jovens franceses de origem africana e oriental, o fracasso do golpe contra Chavez, na Venezuela, a "crise do mensalão" e a "crise aérea", no Brasil, um livro como "O apanhador de pipas" ou um filme como "Filhos da Esperança" são bons exemplos da contestação dessa onipotência midiática fundada na tecnologia do virtual.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Depois da 1ª Etapa...

Quase no final da 1ª etapa da Nova Proposta Curricular para o Estado de São Paulo pode-se observar algumas conclusões. É importante observar como as características das políticas neoliberais são sempre as mesmas. As elites acham, que pelo próprio destino, ou decorrer da história têm a incumbência de corrigir distorções (que elas mesmas criaram). Isso é transparênte no discurso da secretária da Educação. Claro que tem muito de bom no planejamento, no entanto, o que se pergunta é: porque deixaram chegar a esse nível pra depois interferir com correções quase que impostas?
Os neoliberias da social-democracia podriam olhar pro passado e fazer "mea culpa". Assim poderia corrigir melhor os erros. O primeiro passo é saber que errou. Pra que existe a avaliação diagnóstica? Esse mesma que deveria ser feita no contexto geral da educação paulista! Bom, pelo menos nas escolas serão feitas, mas diagnosticarão problemas estruturais, talvés, mais que os individuais de cada unidade. Por exemplo: excesso de alunos em sala de aula, horário extenso dos professores, má formação decorrente dos cursos mal preparados pela secretaria, baixos salários, dois empregos, etc.
Quanto ao jornal, que deve ter sido planejado com serviço terceirizado (como é do feitio dos neoliberais), uma grande quantidade de erros graxos foram observados nas edições. O formato P & B, com falhas nos gráficos, mapas, equações, títulos das aulas, textos, etc, remete a uma única observação: planejamento não pode ser feito de um dia para o outro por quem não está a par do plano.
Seria bom se imprensa e sociedade acompanhassem as mudanças. A imprensa sem atacar os docentes, poderia observar o passado das políticas públicas em São Paulo. Talvés os erros seriam expostos, e conhecendo-os planejaríamos melhor.
Alguém sempre paga pela culpa. A elite se isenta e a corda sempre arrebenta do lado mais fraco!
Observem...
Prof. PC