quinta-feira, 17 de abril de 2008

Os novos terroristas da mídia

por Marcelo Salles

Poucas vezes uma reportagem a respeito do MST foi tão distorcida quanto a do Jornal Nacional da última quarta-feira. Nos dois minutos e vinte e quatro segundos da matéria busca-se a criminalização dos camponeses; para tanto, imagens e palavras são cuidadosamente articuladas para transmitir ao telespectador a idéia de que os militantes do movimento são os responsáveis por todo o medo que ronda os paraenses.
Logo na abertura da matéria, o fundo escurecido por trás do apresentador exibe a sombra de três camponeses portando ferramentas de trabalho em posições ameaçadoras, como a destruir a cerca cuidadosamente iluminada pelo departamento de arte da emissora. Quando os militantes aparecem nas imagens, estão montando o acampamento e utilizando folhas de palmeiras - naturalmente já arrancadas das árvores. Quando a matéria corta para ouvir a opinião de um empresário local, ele tem ao fundo exatamente uma folha de palmeira, só que firme no solo - vistosa e viva. O representante da Vale do Rio Doce é o que tem mais tempo para se manifestar, até gagueja e balbucia: "esses movimentos... estão [nos] impedindo de trabalhar". Em nenhum momento os representantes do MST são ouvidos, o que contraria, inclusive, as próprias regras do manual de jornalismo da Globo. Mas quando os interesses comerciais de empresas amigas estão em jogo essas regras são postas de lado.
Outro dado marcante desta reportagem é a descontextualização dos fatos. O telespectador é apenas informado que o MST “ameaça invadir a Estrada de Ferro Carajás, da Companhia Vale”, mas não se explica que esta ação direta tem uma origem: a privatização fraudulenta da empresa que era estatal. A companhia foi leiloada, em 1997, por R$ 3,3 bilhões. Valor semelhante ao lucro líquido da empresa obtido no segundo trimestre de 2005 (R$ 3,5 bi), numa clara demonstração do prejuízo causado ao patrimônio nacional. Desde então, cidadãos e cidadãs vêm promovendo manifestações políticas e ações judiciais que têm por objetivo chamar a atenção da sociedade e sensibilizar as autoridades competentes para anular o processo licitatório. Se há uma diferença brutal entre discordar de uma determinada opinião e omiti-la, este caso torna-se ainda mais grave porque não se trata de uma opinião, e sim de um fato político: a privatização da Vale é questionada na Justiça – e com grandes chances de ser revertida. Ao sonegar esta informação, a Globo comete um crime.
Com a mesmíssima parcialidade age o jornal carioca O Globo. A reportagem publicada no mesmo dia sobre o MST não deixa dúvidas quanto a posição contrária do jornal. A chamada na capa diz: “MST desafia a Justiça e volta a ameaçar a Vale”; o pequeno texto, logo abaixo, aprofunda a toada: “O MST ameaça descumprir ordem judicial e invadir novamente a ferrovia de Carajás, da Vale, no Pará. Moradores da região estão atemorizados, com a cidade cercada por mais de mil militantes do MST, a quem acusam de terrorismo”. A reportagem principal, à página 9, é acompanhada de outra de igual tamanho. Ambas ouvem apenas a versão da mineradora privatizada pelo governo tucano de FHC. Imediatamente abaixo, como a reforçar a visão policialesca, uma fotografia de um homem morto sobre o título: “Em Porto Alegre, um flagrante de homicídio”. Nenhum dos dois veículos (O Globo e JN) registrou o apoio recebido pelo MST por artistas, intelectuais e lideranças partidárias.
Esta falsa preocupação do Globo com a defesa do povo brasileiro não é de agora. O mesmo jornal que sugere que os militantes do MST são terroristas há 44 anos agiu da mesma foram quando um golpe de Estado derrubou o presidente constitucional João Goulart. Em texto editorial do dia 2 de abril de 1964, o “Globo” assinalou:
- Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas (...) para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas (...), o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições (...)
Assim como para o “Globo” os inimigos do passado eram aqueles que se insurgiam contra a ditadura que seqüestrou, torturou e matou milhares de brasileiros, hoje os terroristas são aqueles que lutam contra as multinacionais que roubam o patrimônio público, danificam o meio-ambiente e produzem graves problemas sociais. É por isso que ao interromper o fluxo de exportação de uma dessas empresas os militantes do MST acertam em cheio no sistema nervoso do capitalismo. Dotados apenas de enxadas e coragem, os sem-terra enfrentam jagunços armados, policiais e poderosos grupos de comunicação - esse coquetel que tem como objetivo massacrar o povo organizado. Os militantes do MST ensinam ao povo brasileiro: não é uma luta justa, mas é uma luta que pode ser vencida.
Por outro lado, o jornalismo dos Marinhos mais uma vez revelou seu caráter covarde e submisso. Aliou-se aos poderosos e rasgou o juramento profissional da categoria, sobretudo no seguinte trecho: "A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade".
Mas não há de ser nada. A História vai se ocupar de reservar a cada qual seu devido lugar.

Marcelo Salles é correspondente da Caros Amigos no Rio de Janeiro e editor do jornal Fazendo Media (www.fazendomedia.com).

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Serra e a Educação em São Paulo

A 1ª etapa da Proposta Curricular para São Paulo finalizou-se na semana passada quando nos dias 03 e 04 de abril foi feito um planejamento avaliando o trabalho do 1º mês. Alguns pontos positivos podem ser destacados como por exemplo a atualização dos conteúdos em diversas disciplinas. A dedicação dos alunos foi quase 100%, porém acharam estranho a forma como a proposta foi aplicada. Os professores também se dedicaram, visto que revelou-se que o principal problema da educação em São Paulo não são os professores.
Todavia algumas coisas podem ser repensadas. Alguma coisa tinha que ser feita. Seria impossível entender a queda na educação em São Paulo, a baixa qualidade sem tomar-se providências, justamente por parte de um governo que pretende a presidência da república. Doravante é bom explicar que o problema em São Paulo não é novo, nem mesmo é esse governo que o causou e nem será ele quem vai solucionar. O que se nota nesta política é o mesmo que se notou em outros tempos. Políticas de governo, e não políticas públicas. Pretende-se alcançar metas, números. Embora as avaliações externas sejam numéricas o problemas é bem mais embaixo. Os números não revelarão tudo que se passa ou se passou, mesmo que acrescentem melhorias.
Há mais de 14 anos esse governo tem mal tratado a educação no Estado de São Paulo, aplicando políticas governistas, eleitoreiras e assitindo o diagnóstico de queda sem dar atenção devida.
A política de terceirização (não somente na educação) já se revelou um tanto que perigosa para o setor público. A educação não pode ser tratada como um serviço que se empreita, como contruções, coleta de lixo, tratamento de água, eletricidades, etc. A educação é um bem universal!
Embora existam boas intenções na proposta, não é com base numa políticia americana onde os jovens planejam espetáculos de violência, show bélicos e assassinatos, que a nossa proposta deva ser pautada. Falou-se muito dos modelos internacionais. O ideal é criar-se um modelo brasileiro, ímpar, onde os problemas brasileiros devam ser diagnosticados e tratados.
Outro aspecto é que o governo de São Paulo escora-se na mídia (através de acordos neoliberais) para apresentar um diagnóstico onde os professores, pilares do sistema são desqualificados, como se fossem únicos responsáveis pela falta de qualidade. Um dos principais fatores é sim, a ausência de propostas criativas e formuladas com base nos modelos nacionais de educação. A ausência de investimento em qualidade está marcada principalmente pela presença do modelo terceirizado na formulação dos projetos. As equipes que confeccionaram o material, são terceirizadas, não convivem com o quadro de crise marcado há mais de 14 anos. Os curso que capacitam professores também são de cujo terceirizado, visto o descaso na articulação entre orientando, orientador, cronograma e planejamento. O material, após ser revisto, tem marca profundamente ideológica, onde se desqualifica políticas do governo federal, qualificando-se uma nefasta perda de recursos em São Paulo na última década (ver exemplo no jornal de geografia da 7ª e 8ª séries em relação IDH e GINI).
Para tanto, a política de governo (e não pública) acrescenta algumas incosntitucionalidades, como por exemplo a retirada das disciplinas Sociologia e Psicologia do currículo do Ensino Médio, e Geografia na 3ª série do EM sendo adequada a parte diversificada, retirada da base comum.
a data base do salário dos professores que exige correção de acordo com inflação do período nem sequer é falada e a estratégia de impor verticalmente via Diretoria de Ensino e Diração de Escolar a "Proposta" deixa de ser proposta, passando a ser imposição Curricular.
Mesmo cumprindo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, e financiando material escolar produzido por equipes terceirizadas e organizando uma estrutural de material físico junto as empresas concorrentes para fornecer bens e serviços o governo de São Paulo demonstra mais uma vez uma preocupação descabida, prioriza-se o supérfluo e minimiza o essencial.
Com uma equipe acostumada com o poder é estranho perceber que nem mesmo o grupo político ainda não viu, e enxergou, digo, enxergou, uma grande parcela de culpa originária nos próprios meandros de suas políticas neoliberais que apresentam fracassos em toda América Latina, na educação francesa, na itália, e principalmente nos EUA, gerando como principal fruto a violência.
De fato, professores precisam se preparar no cotidiano, sempre se adapatando, renovando, construindo, porém a classe dominante, o poder estruturado deve observar o quanto errou para refazer os erros e torná-los acertos.
Ainda necessita-se urgentemente de uma política pública para a educação de São Paulo e menos política de governo. Os recurso do FUNDEB estão aí (apesar do atraso devido obstruções equivocadas nas votações no congresso); a arrecadação de impostos cresce, porém a distribuição, o retorno talvez seja mal distribuído.
Embora tudo pareça mais um evento em ano de eleição as esperanças são grandes. Como diria Carlos Drumond de Andrade, "vamos de maõs dadas"! A sociedade entende com clareza a cada dia, nem mesmo a mídia ideológica engana mais, resta saber se os gestores da Proposta pensam como o poeta: "vamos de mãos dadas"!
Prof. PC